Folha de S. Paulo


'Culpa recai sobre o piloto', diz primo de piloto do jato que levava Campos

"Quando não são encontradas provas na caixa-preta, a culpa sempre recai sobre o piloto. É muito mais fácil culpá-lo quando não se tem provas."

A frase é do piloto Carlos Grou, primo do também piloto Marcos Martins, que, segundo o jornal "O Estado de S. Paulo" desta sexta-feira (16), é apontado em investigações da Aeronáutica como responsável por uma sequência de falhas no acidente que matou o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, em agosto do ano passado.

Para Grou, as informações contidas no CVR (Cockpit Voice Recorder), que registra as conversas dos pilotos, poderiam explicar as causas do acidente. Esse aparelho, porém, não gravou os diálogos da tripulação da aeronave que caiu no bairro do Boqueirão, em Santos, matando, ao todo, sete pessoas.

"Se não registrou nada, é preciso que expliquem o porquê", diz Grou.

O piloto afirma ainda duvidar da alegação da Aeronáutica de que Marcos Martins não estava treinado para pilotar um Cessna 560 XL.

"O que eu sei é que o Marcos já voava havia quatro anos num XL, que é o mesmo modelo. Eu não sei se ele não tinha experiência com esse avião do acidente, que era mais moderno", afirmou.

SUCESSÃO DE FALHAS

Segundo o "Estado de S. Paulo", ao arremeter, Marcos operou os aparelhos em desacordo com as recomendações do fabricante da aeronave e acabou sofrendo "desorientação espacial" –quando o piloto deixa de ter noção da posição do avião em relação ao solo.

A conclusão do relatório da Aeronáutica, ainda segundo o jornal, baseou-se em informações dos últimos segundos do voo, quando o avião caiu em ângulo acentuado e em "potência máxima".

Especialistas já indicavam que uma situação como essa poderia ocorrer por dois motivos: porque o piloto perdera o controle da aeronave ou porque achava que estava subindo, sem perceber que o avião na verdade embicava para baixo.

A arremetida foi necessária por causa do mau tempo no local –havia chuva, vento e visibilidade baixa. Após o procedimento, a tripulação ficou incomunicável.

TRAGÉDIA

O desastre aéreo de 13 de agosto chocou o país ao matar Campos, mudando o rumo da campanha à sucessão. Aos 49 anos, o pernambucano começava carreira em nível nacional.

Ele viajava do Rio ao litoral paulista quando o jato caiu em Santos. Também morreram quatro assessores e os dois pilotos.

Marina Silva, sua vice na chapa, o substituiu na disputa e logo assumiu o segundo lugar nas pesquisas. Na ocasião, desbancou o tucano Aécio Neves e encostou na presidente Dilma Rousseff (PT).

Na sequência, porém, Marina e o PSB sofreram diversas acusações dos outros candidatos e acabou não chegando ao segundo turno.

Campos morreu no mesmo dia que o avô, o líder esquerdista Miguel Arraes (1916-2005). Seu funeral reuniu 160 mil pessoas no Recife.


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