Folha de S. Paulo


Painel do eleitor: 'Estou pendendo mais para a Dilma'

Para a mãe de Ticiany Paranhos, decidir em quem votar nunca é problema. "Ela anula tudo, sempre anulou", conta a estudante de publicidade e propaganda.

No primeiro turno, Ticiany fez o mesmo na disputa para governador ("Vi que do Skaf para o Alckmin era trocar seis por meia dúzia").

Filha única de uma bibliotecária (os pais se separaram há muito tempo), Ticiany divide com a mãe um apartamento que, sem ser grande, é espaçoso, no bairro do Barro Branco, zona norte de São Paulo. São dezenas de prédios, divididos em grupos com cor de pintura diferente conforme o quarteirão em que se localizam.

Desde que nasceu, há 26 anos, Ticiany mora nesse condomínio. No apartamento, que fica num quarto andar (não há escadas), as paredes mostram uma reprodução "art nouveau" de Alphonse Mucha e a foto de uma escultura de Degas.

Joel Silva/Folhapress
Ticiany Paranhos em sua casa na zona norte de São Paulo
Ticiany Paranhos em seu apartamento no bairro do Barro Branco, zona norte de São Paulo

Logo na vizinhança, abrem-se ruas e mais ruas de casas luxuosas, desembocando na avenida Nova Cantareira. "Já fui assaltada, de manhã, no ponto de ônibus ali em frente", conta Ticiany.

Ela frequentou escolas particulares até o ensino médio, e agora estuda na Faculdade Zumbi dos Palmares, focada para atender alunos afrodescendentes. Ticiany acha às vezes "extremadas" as opiniões que circulam na Zumbi dos Palmares. Tendo sofrido preconceito na escola ("Só havia três ou quatro alunos negros no colégio inteiro"), em especial na pré-adolescência, ela não concorda com a política de cotas para negros.

"Dá a impressão que você é burro", diz Ticiany. Existem muitas dificuldades, claro. Na hora de fazer entrevista de emprego, "as pessoas ficam espantadas" ao notar sua cor; pelo currículo, não contavam com essa informação.

Para quem, como a estudante, "sempre quis trabalhar em banco", a Zumbi dos Palmares oferece boas condições. Bradesco, Santander e outras instituições reservam horários especiais para entrevistas com os estudantes dessa faculdade, enquanto os alunos das outras têm de disputar entre si as oportunidades de admissão no emprego.

As discussões políticas são mais fortes entre os alunos de direito e administração, conta Ticiany, do que na faculdade de publicidade e propaganda. Seus amigos no WhatsApp e no Facebook também são "meio alienados".

Durante os debates do primeiro turno, a atenção de Ticiany se dividia entre o que se passava na televisão e a "zoeira" que seus colegas faziam a respeito dos candidatos. Achou "hilárias" a participação de Levy Fidelix e a indignação de Aécio Neves com Luciana Genro no debate da TV Globo.

Quanto a Dilma Rousseff, "viaja muito, não sabe se explicar". Além disso, os debates passam "de um assunto para outro, sem continuidade". Ticiany acabou votando em Marina Silva no primeiro turno, a exemplo do que fez em 2010.

Perto do trabalho (Ticiany faz estágio numa empresa de cobranças), frequenta um Espaço Herbalife, onde clientes podem tomar os produtos nutricionais da marca. Há muita discussão ali, porque "o dono é totalmente PSDB".

Quando Lula se tornou presidente, Ticiany tinha 14 anos. A identificação de Aécio com o governo Fernando Henrique Cardoso evoca, para ela, o que lhe contavam sobre o período. "A imagem é que ele era meio elitista." "Eu ligo FHC com FGV", brinca, referindo-se aos alunos da Fundação Getulio Vargas.

Com relação a Dilma, Ticiany acha que "nem foi complemento nem inovação" face ao governo Lula. "Independentemente da corrupção, o marketing do PT é sensacional", diz. "O número 13 fixa na cabeça da gente."

Elogia, na era Lula, o crescimento das micro e pequenas empresas, as facilidades para o acesso ao ensino superior e "o surgimento da classe dos novos emergentes".

Nas horas vagas, Ticiany gosta de seguir uma tradição da família: a participação em escolas de samba. Padrinho, tios, prima se dividem entre Vai-Vai, Camisa Verde e Império de Casa Verde.

Nas escolas de samba, "a maioria é Dilma", diz ela, que votou na cantora Leci Brandão (PC do B) para deputada estadual, mas anulou sua escolha para federal. "O Netinho de Paula as pessoas brincam que gasta mais tempo fazendo olho roxo em mulher do que trabalhando."

Para o segundo turno, ela está indecisa, "pendendo mais para a Dilma". A amiga Débora se casa em Ilhabela amanhã, e Ticiany não sabe se retorna a tempo no domingo para votar.


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