Folha de S. Paulo


Armínio Fraga diz que economia brasileira está 'derretendo'

O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga defendeu nesta sexta-feira (10) que é possível fazer um ajuste fiscal no país em um período de dois a três anos, sem mexer em nenhum dos programas sociais do governo.

Principal assessor econômico do candidato Aécio Neves (PSDB), Armínio, que está no Brasil, afirmou em videoconferência durante um evento da Câmara de Comércio Brasil-EUA, em Washington (EUA), que a economia brasileira está "derretendo".

"Estamos passando por tempos difíceis, com a inflação entre 6,5% e 7% e o crescimento muito baixo, tendendo a zero. É perturbador", afirmou.

Em sua apresentação, Armínio afirmou que, a partir de 2009, o governou adotou um novo modelo de desenvolvimento, com a economia mais fechada e mais intervenção do governo. Como exemplo, citou a concessão de crédito que, desde então, tem sido liderada pelos bancos públicos.

"Temos uma situação um pouco esquizofrênica aqui. O Banco Central está praticamente o tempo todo tentando baixar a inflação enquanto os bancos públicos e o Tesouro continuam estimulando a economia fortemente", disse.

Nesta semana, o IBGE divulgou que o IPCA (o índice oficial de inflação do país) teve alta de 0,57% em setembro, acima do esperado pelo mercado. No acumulado em 12 meses, o índice ficou em 6,75% –o teto da meta do governo é de 6,5%.

"Precisamos de um reequilíbrio. Então nossa abordagem será a de colocar a política fiscal na linha em dois ou três anos. Há muita gordura para cortar, então nenhum programa social será tocado, de nenhuma forma", afirmou.

Entre os ajustes necessários, Armínio também citou a retirada gradual de subsídios do governo e critérios mais claros para a concessão de crédito dos bancos públicos, incluindo o BNDES -que, segundo ele, não deveria conceder recursos para empresas como a Petrobras, que não precisam destes financiamentos.

"Nesse momento, estamos olhando para uma economia que está muito desacelerada, quase derretendo. Eu acho que esses ajustes podem ser feitos de forma suave. Estou muito convencido de que podemos entrar novamente em um ciclo virtuoso."

POLÍTICA EXTERNA

Armínio, apontado como o futuro ministro da Fazendo caso Aécio Neves vença a eleição, criticou ainda a condução da política externa no governo de Dilma Rousseff (PT).

"Nos últimos anos, tivemos uma abordagem externa partidária, em que por algum motivo passamos a gostar de estar perto de pessoas como [o ex-presidente da Venezuela Hugo] Chávez, [Fidel] Castro, o [ex-presidente do Irã Mahmoud] Ahmadinejad e [o presidente da Bolívia Evo] Morales", disse.

"Se o Aécio vencer, o Brasil vai trabalhar muito para voltar ao centro do debate global, e isso vai ser muito positivo. Tenho certeza de que vamos nos aproximar mais dos EUA, retomar as negociações que temos em andamento com a Europa, a Ásia também é muito importante para nós. Queremos muito voltar para uma abordagem mais aberta."


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