Folha de S. Paulo


Garganta no volume morto; principais candidatos cuidam da voz na reta final

Nas últimas semanas, o "volume" das broncas de Dilma Rousseff diminuiu, mas assessores da petista, alvos preferenciais das reprimendas da presidente, não comemoram. Ao contrário: a rouquidão da presidente é uma das principais preocupações do comitê dilmista nesta eleição.

Na madrugada de quinta (2), depois do debate da TV Globo, no Rio, Dilma foi para uma entrevista coletiva. Procurou com os olhos um de seus mais próximos auxiliares, o general Amaro. Não trocaram uma palavra, mas ele logo tirou do bolso uma pastilha Benalet para a petista.

O ritual é o sinal mais corriqueiro das constantes dores de garganta da candidata.

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"Minha garganta já está no volume morto", disse Dilma, durante evento no Rio, na terça, sem perder a chance de estocar o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pela crise hídrica em São Paulo.

Para melhorar a rouquidão, ela adiou e cancelou agendas de campanha no último mês. Afônica, desistiu de um comício do PT em Ceilândia no último dia 25.

"Estou sem voz, eu dei entrevista para vocês. Estou tentando fazer gargarejo", afirmou Dilma na última quarta-feira (1º), em Brasília.

A presidente segue sugestão do ex-ministro do Desenvolvimento e Indústria e candidato ao governo de Minas, Fernando Pimentel: gargarejo com chá de casca de romã.

Em 2010, coordenadores da campanha afirmam que ela chegou a ser medicada com cortisona para aliviar a irritação nas cordas vocais.

O comitê tem recomendado que Dilma priorize falas curtas em eventos. Na segunda (29), seguiu à risca: falou por dez minutos num comício na zona sul de São Paulo.

Na ocasião, o microfone falhou por alguns segundos. Alexandre Padilha, candidato do PT no Estado, tentou puxar o coro "Dilma, Dilma" para distrair a plateia. A presidente explicou: "Calma! Não é a minha voz ainda!". Era o mal contato do microfone.

Nesta sexta, após campanha na capital paulista e em São José dos Campos, Dilma marcou coletiva de imprensa, mas não respondeu nada –rouca, alegou estar com faringite. Mesmo assim, discursou sozinha alguns minutos.

Por que convocar os jornalistas se ela não tinha intenção de responder perguntas? "Pois é, mas eu tenho um minuto garantido, né?", afirmou ela, em referência ao tempo de cobertura do Jornal Nacional, da "TV Globo".

FONO

A preocupação com a voz também ronda a equipe dos adversários da presidente –mas com efeitos distintos.

Antes do início oficial da campanha, assessores aconselharam Aécio Neves (PSDB) a procurar uma fonoaudióloga. O tucano concordou. Consultou-se uma vez com a profissional. Nunca mais voltou.

Aécio é avesso a alguns cuidados que circundam a rotina de um presidenciável. Mas não abre mão de dois itens: um figurinista para dias importantes e o corte do cabelo.

Antes de entrevistas, o tucano sempre quer uma Coca-Cola gelada ou um energético, bebida a que tem recorrido para aguentar a agenda.

Com Marina Silva (PSB), a voz chegou a ser um problemão em setembro, um dia antes do debate promovido pela CNBB, no interior paulista.

A candidata telefonou para dom Raymundo Damasceno para dizer que não iria ao jantar organizado por ele horas antes do embate. Ordem da fonoaudióloga de Marina.

Depois de visitar quatro Estados em dois dias, a ex-senadora ficou afônica faltando três semanas para as eleições. Assessores queriam a diminuição do ritmo de sua agenda, mas Marina recusou. Preferiu a disciplina em exercícios para as cordas vocais.

Gravações de programas eleitorais, discursos cada vez mais inflamados e entrevistas, porém, não permitiram a recuperação da voz aguda tão característica da candidata. "Marina está rouca, precisa descansar", repetiam os aliados mais preocupados.

Os pequenos períodos em silêncio tornaram-se imprescindíveis. A voz estava cada vez mais baixa e Marina precisou ceder. Seus compromissos não começavam mais tão cedo e as manhãs eram usadas para que ela fizesse uma alimentação mais adequada e descansasse o corpo e a voz.

Uma de suas filhas, Shalom, foi escalada nos últimos dias para monitorar a mãe.

Adiantou. Na terça (30), a candidata cancelou a coletiva que daria para poupar a garganta. No dia seguinte, atrasou-se por mais de duas horas para a preparação do debate da Globo. Motivo: dormir e redobrar os exercícios vocais. Ao entrar no estúdio, Marina tinha a expressão mais descansada e a voz mais firme. "Escutá-la é essencial", brincou um assessor.


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