Folha de S. Paulo


Moradores de rua fazem 3º protesto do dia na frente da Prefeitura de SP

Um grupo de cerca de cem moradores de rua e assistentes sociais fez na tarde desta sexta-feira (30) o terceiro protesto do dia no viaduto do Chá, na frente da Prefeitura de São Paulo. Eles fizeram uma manifestação contra a "higienização da cidade" e queimaram, no final do ato, uma réplica da taça da Copa do Mundo feita de papel.

O ato foi organizado pelo Catso (Coletivo Autônomo dos Trabalhadores Sociais) e pela Pastoral de Rua. Segundo o padre Júlio Lancellotti, da pastoral, o protesto estava marcado há cerca de dez dias, mas ganhou força com a ação da Polícia Militar e da GCM (Guarda Civil Metropolitana) que expulsou cerca de 50 famílias de baixo do viaduto Alcântara Machado, na zona leste.

"Antes do dia 28, o Ministério Público fez um acordo com prefeitura e Estado para garantir a não remoção de famílias de rua. Fizeram uma audiência pública para nos avisar do pacto, mas nós sabíamos que era chapa branca. Hoje ficou provado isso", afirmou o padre Lancellotti durante o protesto.

"Ninguém lá sabia da ação da polícia. Chegaram derrubando tudo enquanto a gente estava dormindo", diz Elson Vieira, 44, que mora no local. "Teve um policial que botou fogo em uma das barracas. Por causa do incêndio, muitos nem conseguiram salvar os pertences e documentos."

"A polícia usou bombas de gás e de efeito moral. Entre as famílias tinham idosos e crianças. Alguns ficaram feridos", conta a assistente social Isabela Melo, 44, que trabalha em uma tenda de auxílio no viaduto.

De acordo com a PM, a ocupação contava com 50 pessoas, que botaram fogo em entulhos para impedir a ação dos policiais. A remoção dos moradores de rua foi motivada por uma reintegração de posse, mas a PM não soube informar de quem foi o pedido.

Os moradores de rua iniciaram o ato por volta das 16h30, enquanto ainda se concentravam no viaduto do Chá um grupo de professores municipais, em outra manifestação. Com isso, os moradores de rua e assistentes sociais ficaram concentrados na esquina com a rua Líbero Badaró, jogando futebol.

Enquanto os professores dispersavam, os manifestantes incendiaram a taça da Copa. O ato se dispersou por volta das 18h40.

Durante a noite, os moradores voltaram ao viaduto Alcântara Machado e realizaram novo protesto, bloqueando a faixa de ônibus da radial leste.

COMERCIÁRIOS

Antes dos protestos de professores municipais e dos moradores de rua, já havia ocorrido no viaduto do Chá, pela manhã, um ato de comerciários. A categoria é contra a lei que instituiu feriado no dia 12 de junho, data de abertura da Copa, mas os excluiu do benefício. Não houve encontro com representantes da prefeitura ou qualquer negociação.

Segundo a Polícia Militar, cerca de 400 manifestantes se concentraram no local. Os comerciários dizem que, com a exclusão da categoria do projeto aprovado na Câmara, não terão direito ao pagamento de hora extra, vale-alimentação excepcional para feriados e um dia de folga.

O texto original enviado pelo prefeito, Fernando Haddad (PT), excluía do feriado apenas os serviços essenciais da cidade, como assistência médica e hospitalar, transporte coletivo e captação de esgoto e lixo. Após iniciativa do vereador Antônio Goulart (PMDB), porém, diversas lideranças resolveram incluir uma emenda garantindo o funcionamento do comércio.

Na próxima semana, os comerciários pretendem fazer um novo protesto semelhante ao desta sexta-feira (30) só que, desta vez, em frente à Câmara. A categoria quer levar ao local uma faixa com nomes e fotos de todos os vereadores que votaram a favor do projeto que determina o feriado.

PROFESSORES

Já à tarde, cerca de 2.000 professores municipais, segundo estimativa da PM, se reuniram para aguardar a reunião que ocorreu entre representantes dos sindicatos da categoria e o secretário de educação, Cesar Callegari. Os organizadores apontam que o total de manifestantes pode ter chegado a 6.000.

Ao término do encontro, os professores rejeitaram a proposta de incorporação de abonos em três vezes nos próximos três anos, feita pela prefeitura. A proposta foi vaiada após ser lida no carro de som.

Os professores pedem a incorporação imediata do bônus de 15,38% anunciado pela prefeitura. Durante a assembleia, os cerca de 2.000 professores que estavam no local, segundo estimativa da PM, gritaram "a greve continua, Haddad a culpa é sua".

Com esse bônus de 15,38%, anunciado no início do mês, o piso salarial da categoria foi para R$ 3.000 -o valor era de aproximadamente R$ 2.600. Os sindicatos, porém, afirmam que esse benefício atinge apenas 16 mil professores de um total de 60 mil, e pedem o valor incorporado ao salário e não como bônus.

Outras reivindicações da categoria são a melhoria nas condições de trabalho, o fim das terceirizações, e o cancelamento da implementação do Sistema de Gestão Pedagógica.

Os professores também decidiram na assembleia desta sexta-feira manter a vigília iniciada na noite de quinta na frente da prefeitura. As barracas montadas deverão permanecer no local.


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