Folha de S. Paulo


Obra nos EUA foi estopim de disputa entre estatal e belgas

Poucos meses depois de comprar metade da refinaria de Pasadena, no Texas, a Petrobras tentou convencer seus sócios do grupo belga Astra a contratar as construtoras brasileiras Odebrecht e UTC para dobrar a capacidade da nova empresa.

A obra, estimada pela Petrobras em US$ 2,5 bilhões, não estava prevista e era muito cara na opinião dos belgas. A discussão em torno do projeto se transformou no estopim da briga que levou a estatal à nebulosa compra da outra metade da refinaria.

As filiais da Petrobras no exterior não são obrigadas a fazer licitações, mas é praxe convidar alguns grupos para uma comparação de preços.

Documentos internos da estatal, obtidos pela Folha, mostram que a Odebrecht estava escolhida desde o início para ampliar a refinaria texana. A obra não chegou a ser realizada, porque os sócios se desentenderam.

Divulgação/Clui.org
Vista aérea da Refinaria de Pasadena, no canal de Houston, no Texas
Vista aérea da refinaria de Pasadena, no canal de Houston, no Texas

Nas justificativas para a contratação da construtora, a Petrobras dizia que a Odebrecht era a "melhor alternativa" por ser a "única empresa brasileira que detém larga experiência no mercado de engenharia americano".

Também recomendava que a construtora baiana fizesse uma parceria para a obra, "preferencialmente com a UTC Engenharia".

Em novembro de 2006, dois meses após assinar contrato com a Astra, a diretoria-executiva da Petrobras deu aval para seus representantes nos EUA "atuarem" junto aos belgas, com o objetivo de obter a "concordância" para a Odebrecht dobrar a capacidade da refinaria para 200 mil barris de óleo por dia.

"A Petrobras trouxe unilateralmente e ficou insistindo em um projeto de duplicação da refinaria", afirmaram os advogados da Astra no processo da Justiça do Texas em que as duas empresas se enfrentaram.

A Petrobras perdeu e acabou pagando US$ 1,18 bilhão por uma refinaria adquirida pelos belgas por US$ 42,5 milhões em 2005.

PROJETO MELHOR

Em uma reunião em Copenhague, na Dinamarca, em setembro de 2007, José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, disse pessoalmente aos representantes da Astra, que tinha o "direito" de propor um "projeto melhor" para Pasadena e que a unidade teria que ser duplicada.

Os belgas responderam que a ampliação era "dispendiosa", "não tinha racionalidade econômica" e "trazia custos adicionais" entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões". Eles enfatizaram que a única alternativa era a Petrobras comprar a sua parte.

Quando a obra foi cancelada, por causa da briga dos sócios, a Odebrecht já tinha sido convidada pela estatal e montava uma equipe para trabalhar no projeto.

A UTC também começou a se preparar para a ampliação de Pasadena. Pessoas ligadas às construtoras não sabem por que a estatal sugeriu a contratação da UTC e dizem apenas que as duas empresas fazem muitas obras juntas.

Procuradas, Petrobras, Astra e Odebrecht não quiseram se manifestar. A UTC afirmou por nota desconhecer "a solicitação para que tivesse preferência para formação de eventual joint venture".
Em outubro de 2010, a Odebrecht foi contratada pela Petrobras para obras ligadas à segurança e ao meio ambiente em Pasadena, no valor de US$ 175 milhões.

O contrato terminou em fevereiro e fazia parte de um pacote de obras para a estatal em dez países.

Esse pacote está sendo investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), após a Petrobras fazer uma revisão das obras e reduzir os US$ 825,6 milhões previstos em contrato pela metade.

A Petrobras é um dos principais parceiros de negócios da Odebrecht. São sócias na Braskem, maior petroquímica da América Latina, e a construtora está nos principais projetos da estatal, como a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, também investigada pelo TCU por suspeita de superfaturamento.

COLABOROU ISABEL FLECK, DE NOVA YORK


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