Folha de S. Paulo


Advogado reúne 30 em Brasília em marcha para apoiar o poder militar

Joel Câmara vestiu uniforme de general na tarde deste sábado (22) e foi ao Setor Militar Urbano, em Brasília, para a primeira ação do movimento revolucionário que está tentando criar ao lado de colegas e demais simpatizantes do golpe militar de 1964.

Caía uma chuva forte, típica de Brasília em fim de março, mas o advogado de 81 anos conseguiu reunir umas 30 pessoas, arrebanhadas por meio das redes sociais, para a reedição brasiliense da Marcha da Família com Deus Pela Liberdade.

Quem não ficou dentro dos carros, esperando a chuva passar, acompanhou o general Joel –como estava escrito na plaqueta colada ao peito– na peregrinação, porta a porta, às casas dos generais da vila militar localizada ali perto.

Nenhum dos militares abordados topou o convite de se juntar ao movimento. "Batemos à porta de cada general, a gente só foi pra incomodar. Eles estão sendo covardes, estão sendo pusilânimes. Não têm nem coragem de defender os seus companheiros", disse Joel.

"Fora Dilma, fora Lula, fora comunistas" dizia uma das faixas empunhadas pelos participantes, que cantaram o Hino Nacional Brasileiro debaixo do majestoso portal do Quartel General do Exército, obra do comunista Oscar Niemeyer. Marcaram reunião para a próxima segunda-feira, para decidir os rumos do movimento.

Joel foi o número dois das Ligas Camponesas em Pernambuco (organização de inspiração comunista) na época anterior ao golpe de 1964 - que ele chama de revolução, porque "golpe é quando o detentor do poder se apropria dele em benefício próprio".

Joel declara-se um revolucionário trotskista, diz que já foi guerrilheiro e terrorista e que foi preso pelos militares logo após a "revolução". Joel diz também que já sofreu atentado a bala dos comunistas.

Quando preso pelos militares, dividiu cela com Gregório Bezerra - militante de esquerda torturado e arrastado em praça pública, em Recife, com uma corda no pescoço e os pés em carne viva imersos em solução de bateria de carro, episódio que foi transmitido pela televisão.

"Tortura não é sadismo, é para conseguir, em tempo real, informação estratégica para evitar o ato de terrorismo", diz Joel. Ele já torturou (enquanto "segurança trotskista" de João Goulart e Tancredo Neves) –e já apanhou. "Eu também fui espancado"

Joel fala que a situação hoje é muito pior do que em 1964, quando aconteceu a primeira edição da Marcha da Família. "A corrupção está oficializada, a criminalidade está anistiada."

As principais bandeiras do movimento organizado pelo advogado são a retomada do "prestígio das forças armadas e dos órgãos de segurança pública" e o uso do poder militar para o estabelecimento da ordem.

"Se você descobrir o homem que sequestrou sua esposa, seu marido, seu filho, a senhora não vai chamar o papa para rezar, nem esperar juiz, ou o promotor. A senhora desce o cacete."


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