Folha de S. Paulo


Indicado ao Turismo rejeita convite por causa de crise entre PMDB e PT

Indicado pela presidente Dilma Rousseff para assumir o Ministério do Turismo, o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) disse nesta terça-feira (11) que já transmitiu ao Palácio do Planalto sua decisão de não aceitar o comando da pasta para evitar que a crise PT-PMDB se torne maior.

Vital disse que seria "instrumento de cisão" ao assumir um ministério que é da cota do PMDB da Câmara. Líderes peemedebistas já afirmaram que Vital não assumiria o cargo, mas pela primeira vez o senador confirmou publicamente sua insatisfação com a indicação.

Há seis meses, o PMDB indicou Vital para assumir o Ministério da Integração Nacional. Dilma não aceitou a indicação e, há duas semanas, apresentou como solução nomear Vital para o Turismo – pasta que é controlada pelo PMDB da Câmara.

"Eu disse que não queria ser esse instrumento de divisão do partido. Para a Integração, meu nome tinha o apoio das bancadas da Câmara e do Senado. Manifestei minha indisposição de estar em um ministério que não tem relação definida", afirmou.

Os deputados peemedebistas estão em rota de colisão com o PT e o Palácio do Planalto desde que a presidente Dilma Rousseff decidiu reduzir de dois para um os ministérios controlados pela bancada. Vital disse que a atual "convulsão partidária" precisa ser debelada porque prejudica o PMDB e o governo.

Alan Marques-28.fev.2014/Folhapress
O senador Vital do Rego rejeita indicação para o Ministério do Turismo
O senador Vital do Rego rejeita indicação para o Ministério do Turismo

Numa estratégia para acalmar Vital e o PMDB do Senado, o Planalto intermediou acordo para o PT apoiar a candidatura do irmão do senador ao governo da Paraíba, Veneziano Vital do Rêgo (PMDB). O senador disse que está "satisfeito" com o apoio porque considera mais importante neste momento discutir as alianças regionais do PT com o PMDB.

"É uma aliança natural formada desde o governo Lula. A Paraíba teve o primeiro governador do PMDB a apoiar o ex-presidente." Na prática, o apoio a Veneziano acalma Vital e evita que o PMDB do Senado, até então neutro na relação com Dilma, também adote postura de rompimento no apoio ao governo no Congresso.

O senador disse que seria "falso" ao afirmar que não sente mágoa do Planalto por ter deixado seu nome exposto há seis meses em meio às discussões da reforma ministerial, mas que atravessou uma "maratona" com o apoio do partido.

"Nesse processo de exposição desde que fui indicado para a Integração, é como se eu tivesse enfrentado uma maratona que, com o apoio dos companheiros, a gente atravessou. A saída foi dada por mim ao não aceitar o Ministério do Turismo. E por tudo que represento na Comissão de Constituição e Justiça do Senado", afirmou o senador, que é presidente da CCJ.

ALIANÇA

Vital criticou a postura da presidente Dilma Rousseff de isolar o líder do PMDB da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que se tornou porta-voz dos insatisfeitos com o Palácio do Planalto. O senador afirmou que o líder expressa posições como representante de uma bancada, por isso a solução para a crise não passa pelo seu isolamento.

Na relação com o Senado, Vital disse esperar que a relação de apoio da bancada com o Planalto seja mantida. "O Senado deu à presidente Dilma equilíbrio e governança. O que era turvo no governo Lula, virou água limpa na relação com o Senado, sem marolas. Mas o PMDB é um só. Nessa condição, desejo dar minha ajuda nesse processo da Câmara", afirmou.

O senador disse que a disposição de Dilma é manter a boa relação com o PMDB do Senado e "restabelecer" seus laços com a bancada da Câmara. "O sentimento nas reuniões da presidente com o PMDB ontem era de superação dessas turbulências", afirmou.

Dilma se reuniu ontem com a cúpula do PMDB, na Câmara e no Senado, mas não chamou Cunha para discutir a crise com o partido –que é seu principal aliado. Na reunião com o Senado, o clima foi de cordialidade e promessas de manutenção da aliança nacional, mas com os deputados Dilma manifestou sua decisão de isolar Cunha e não ampliar a cota dos deputados no primeiro escalão do governo.

A crise ganhou força durante o Carnaval, quando Cunha trocou farpas públicas com o presidente do PT, Rui Falcão. O líder também defendeu que o PMDB "repense" a aliança nacional com o PT em torno da reeleição da presidente Dilma Rousseff.


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