Em um protesto contra a eventual indicação do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) para comandar a Comissão de Direito Humanos da Câmara, um grupo de estudantes promoveu nesta terça-feira (11) um beijo gay em frente ao gabinete da Presidência da Casa.
O ato foi acompanhado por seguranças e deputados que deixavam a reunião de líderes da Câmara. As seis estudantes que participaram do ato chamado "Mais amor e menos Bolsonaro" fazem parte da União da Juventude Socialista. Ao todo, 30 estudantes tentaram participar do ato, mas a maior parte foi barrada pela segurança do Congresso.
Além do beijo gay, elas distribuíram panfletos e um manifesto mostrando porque o deputado, classificado por elas de "filhote da ditadura" não deveria ser indicado para a Comissão de Direitos Humanos. Bolsonaro é considerado um dos mais conservadores parlamentares e coleciona polêmicas com movimentos gays e ativistas ligados aos direitos humanos.
"Não somos gays, não somos heterossexuais. Somos livres. Esse ano, será um ano importante para a luta dos direitos humanos e não podemos permitir que um filhote da ditadura, um racista, um preconceituoso, homofóbico e racista presida a Comissão de Direitos Humanos que é tão importante para a consolidação da democracia", disse Maria das Neves, 26, estudante de História da Universidade Federal do Amazonas.
Estudantes promovem beijo gay na Câmara
Usando palavrões contra os ativistas, Bolsonaro soltou frases polêmicas e disse que as minorias não vão ter vez em sua eventual gestão. "Minoria tem que se calar para maioria", disparou o deputado. "Defendo direito da maioria e não da minoria. Se não vai falar que é direito do pedófilo não ser molestado quando está fazendo suas práticas", disse.
Questionado como se posicionaria sobre o Presídio de Pedrinhas (MA) que enfrenta uma situação crítica, ele soltou: "é só não matar, não roubar e não estuprar que não vai para lá. Não tem que dar vida boa a malandragem". O deputado disse ainda que "a melhor coisa do Maranhão é Pedrinhas".
DEFINIÇÃO
As bancadas da Câmara devem definir na próxima semana as comissões. Ainda não há consenso. O PP ameaça indicar Bolsonaro para chefiar a Comissão de Direitos Humanos. A movimentação é classificada por deputados como chantagem porque a preferência do PP é para manter a Comissão de Minas e Energia, que deve ser ocupada pelo PMDB ou PSD, que têm preferência na escolha.
O PT, maior bancada, é pressionado a escolher a Comissão de Direitos Humanos, mas tem resistências. O Planalto recomentou que o partido, que tem direito a três presidências, fique com Saúde. Os petistas também vão comandar a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), principal colegiado da Casa. Sobraria uma indicação, sendo que correntes defendem Agricultura ou Educação. A saída seria ou aumentar o número de comissões, ainda em discussão pela cúpula da Câmara, ou convencer um aliado a indicar alguém ligado a Direitos Humanos.
No ano passado, na escolha das comissões, a de Direitos Humanos ficou com o PSC e foi entregue ao deputado Marco Feliciano (PSC-SP), acusado de racista e homofóbico. Os trabalhos da Câmara chegaram a ficar paralisados, houve pressão para que ele abandonasse o posto, mas ele permaneceu e aprovou manterias que não vão na contramão do setor.
Apesar do risco dos deputados viverem uma nova polêmica para a composição da Comissão de Direitos Humanos, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), evitou questionar a eventual indicação de Bolsonaro para o colegiado.
Segundo Alves, as bancadas têm direito a lançarem seus nomes. "É uma comissão muito importante para as minorias. Eu acho que não cabe nenhum tipo de radicalismo [na comissão], mas é um direito dos partidos indicarem seus representantes", disse.
Questionado se não seria um problema repetir o episódio Feliciano, ele minimizou. "Certamente, não é aconselhável viver aquele clima inicial que viveu. Se bem que as coisas depois se ajustaram", disse.