Folha de S. Paulo


Petistas torcem por adiamento do julgamento para 2014, mesmo sendo eleitoralmente ruim

Mesmo reconhecendo que a eventual conclusão do julgamento do mensalão em 2014 --ano eleitoral-- poderá trazer prejuízos aos seus candidatos, a torcida preponderante entre os dirigentes do PT é pela prorrogação do caso.

Internamente, ninguém discorda da avaliação segundo a qual o tema traz desgastes, afirma um personagem com bom trânsito na cúpula petista que pede para não ter o nome citado. Mas o entendimento consolidado sobre o impacto eleitoral do mensalão é que "o pior já passou".

O "pior", segundo essa avaliação, foram as eleições de 2006 e 2012. A primeira porque ocorreu logo após a revelação do esquema, em 2005. A segunda porque foi feita imediatamente após as condenações dos principais personagens e cujo período de campanha coincidiu com o auge do julgamento por parte do STF (Supremo Tribunal Federal).

O raciocínio dominante na direção da sigla poderia ser resumido assim: se o PT não abandonou os acusados quando o risco eleitoral era maior, e ainda assim conseguiu ser bem sucedido do ponto de vista eleitoral, por que abandonaria agora?

O sucesso petista de 2006 foi a reeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O mais significativo de 2012, a vitória de Fernando Haddad na disputa pela Prefeitura da São Paulo contra o arquirrival José Serra, do PSDB.

Petistas admitem um sentimento interno de mea culpa por irregularidades cometidas no caso do mensalão, mas muitos continuam convictos de que as irregularidades não passam de caixa dois de campanha, delito "comum" no sistema político brasileiro.

É esse misto de impressões, convicções e sentimentos que torna forte a sensação interna de que os "companheiros" estão sendo injustiçados.

DEFESA

Publicamente, os petistas continuam fazendo a defesa enfática dos acusados --principalmente dos ex-deputados José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha, todos de São Paulo-- e procuram evitam discutir qualquer hipótese de benefício ou prejuízo eleitoral em função do calendário do julgamento.

Mesmo o ex-tesoureiro Delúbio Soares, que confessou o crime, é visto com condolência, já que não enriqueceu enquanto era um dos operadores do esquema.

"Teremos sempre a nossa solidariedade democrática com eles", diz o vice-presidente nacional da legenda, Alberto Cantalice, do Rio de Janeiro.

Secretário de relações internacionais e candidato a presidente da sigla por uma corrente interna opositora à de José Dirceu, Valter Pomar afirma que a preocupação não é com a eleição presidencial, mas em "garantir o direito de defesa" dos correligionários condenados.

"Certos liberais enchem a boca na hora que falam do Estado de Direito, mas na hora de julgar preferem atropelar o direito de defesa", disse o dirigente, que criticou os ministros que votaram contra os embargos infringentes: "'Aos inimigos, nem mesmo a lei', é o que eles pensam".

A expectativa do deputado Paulo Teixeira (PT-SP), secretário-geral e também candidato à presidência do partido, é que, mesmo com a análise dos infringentes, o caso seja concluído até o final deste ano: "Os embargos vão trabalhar com material probatório já existente e a maioria vai tratar de diminuição de pena. Acho que o julgamento vai durar mais 60 dias", disse.

Na avaliação de alguns petistas, os candidatos do PSDB dificilmente irão explorar o assunto mensalão de forma explícita em debates transmitidos pela TV ou no horário eleitoral do ano que vem, pois sabem que haveria troco.

A contraofensiva petista seria com questionamentos diretos a respeito do chamado mensalão mineiro, escândalo similar da campanha do tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas Gerais em 1998, caso ainda não julgado pelo STF.

A situação é pior para o PT, segundo a avaliação interna, quando as acusações partem da imprensa e são mantidas no noticiário por vários dias. Em casos assim, a dificuldade para responder é bem maior.


Endereço da página: