Folha de S. Paulo


Crianças disputam atenção do papa em favela do Rio

Eufóricas com a visita do papa Francisco, as crianças da favela da Varginha disputavam aos gritos a atenção do ilustre visitante, mesmo sob forte chuva.

Enfileiradas em frente à capela São Sebastião, berravam "Viva Francisco" para atrair seu olhar. O pontífice cumprimentou a primeira fila de crianças. Sem cerimônia, uma delas fez um carinho na testa do papa.

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Durante o trajeto de papamóvel pela comunidade do Complexo de Manguinhos (zona norte), dividiam com os adultos os espaços ao lado da grade que os separava da rua.

O papa Francisco correspondeu. Pegou no colo e beijou pelo menos 18 crianças em menos de 1 km.

A manicure Cíntia Souza, 26, conseguiu aproximar sua filha, Camyla Souza, de 8 meses. A bebê foi beijada pelo papa. "Esse momento ficará marcado na minha vida."

A vendedora Gisele Sena, 28, disse que "sentiu" momentos antes que o sumo pontífice beijaria seu filho, Daniel de Alcântara Sena, de 2 anos. O menino chorou ao ser retirado dos braços do pai, mas parou assim que recebeu o beijo na testa. "Deus recompensou a minha fé."

Muitas outras, em grupos, gritavam para o papa. Um garoto com quem o papa conversou chorava compulsivamente, sem conseguir falar.

As lajes das casas estavam tomadas por fiéis ou por atiradores de elite, que faziam a segurança do papa. Entre a madrugada de anteontem e a saída do papa, 120 homens do Bope, além de outras centenas da Polícia Federal e do Exército, ocuparam a favela.

Localizada numa região marcada pela guerra do tráfico de drogas e conhecida como "faixa de Gaza", a favela da Varginha foi escolhida para receber o papa por ser menos conhecida que outras comunidades, como o Alemão, Rocinha ou Maré.

Francisco recebeu e colocou um colar havaiano nas cores da bandeira do Brasil. Retribuiu com sorrisos, acenos, pequenos gestos que o aproximavam da multidão.

A CASA ESCOLHIDA

A comunidade estava enfeitada com cartazes de boas-vindas e fachadas de casas com mensagens de fé, como "Sangue de Jesus tem poder".

Algumas casas disputavam receber a visita do papa. Não se sabia qual seria. Maria Lúcia dos Santos Penha, moradora da Varginha há 38 anos, decorou sua estreita varanda com 20 balões brancos e amarelos. Deu certo. Francisco chegou a parar diante de uma outra casa no trajeto, quase entrou, mas a aglomeração de pessoas na frente da residência dificultou o acesso. Aí entrou na casa amarela.

"Eu sabia que ele iria passar em uma das casas e que poderia ser a minha. Não consegui dormir à noite, de tanta ansiedade. Achava que ia cair no choro quando ele entrasse. Mas consegui me controlar", disse Maria Lúcia.

Na sala de estar, o papa permaneceu em pé. Abençoou todos os presentes. Eram 20 pessoas. Com eles, Francisco rezou uma ave-maria antes de partir.

Diante da possibilidade de receber a ilustre visita, todos os parentes e agregados da família apareceram por lá.

A nutricionista Débora Venceslau Soares da Penha, 27, casada com um sobrinho de Maria Lúcia, é mãe da menina Lara, de um mês e 15 dias. "O papa perguntou quando ela havia nascido. Depois a pegou no colo e deu a bênção", disse Débora.

A visita mexeu com toda a comunidade. Até o pastor Wilson reuniu dez fiéis e foram orar pela chegada do papa. Segundo ele, nada contra o líder católico, apenas uma recepção. "Tínhamos culto marcado na hora da chegada ao papa. Resolvemos mostrar a nossa fé", disse o pastor.

No início da visita, o papa passou por uma manifestação contra as remoções causadas na região por causa de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), já dando o tom do seu discurso mais político.


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