Folha de S. Paulo


Análise: Poucos trabalhos mostram eficácia de atendimento religioso a dependentes químicos

Os protestantes foram os pioneiros em oferecer tratamento de dependentes químicos, logo após a Segunda Guerra Mundial. A partir da década de 1960, surgiram os primeiros centros católicos. Não há dados no Brasil de quantas instituições religiosas atuam hoje nessa área.

Do ponto de vista científico, também há poucos trabalhos que estudem de forma criteriosa as metodologias e eficácia dessas terapias. A maioria dos tratamentos tem como a base a fé e não contam com intervenção médica.

Segundo estudo da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), os evangélicos são os que mais frequentemente utilizam a religião como forma exclusiva de tratamento.

Os católicos seguem a mesma linha, mas relatam menos repulsa a um tratamento médico. Os espíritas são os que mais buscam apoio terapêutico. A oração como método ansiolítico é importante nas três religiões.

Mais do que a fé religiosa, os dependentes relatam que o suporte, a pressão positiva e o acolhimento recebido pelo grupo e a oferta de restruturação de vida com o apoio dos líderes religiosos foram os fatores que mais influenciaram na abstinência.

No campo médico, muitos psiquiatras defendem centros de recuperação laicos, já que o tratamento em clínicas que tenham vínculos religiosos pode ser prejudicial a pacientes ateus, por exemplo.

Eles também questionam a eficácia desses centros de recuperação, mas reconhecem que são alternativas baratas para tratar dependentes químicos.

No campo político, há tensão permanente em relação à liberação de recursos a essas comunidades terapêuticas ligadas a grupos católicos e evangélicos.

Existe um projeto de lei tramitando na Câmara que prevê a criação de uma fonte de financiamento às entidades paralela ao SUS, o que é criticado por áreas técnicas do Ministério da Saúde e da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas).

No início do ano, o Palácio do Planalto pressionou a Senad para liberar recursos a essas comunidades. A secretaria tinha em caixa R$ 130 milhões para tratamento de dependentes.

Mas nos dois anos em que ficou à frente da secretaria, Paulina Duarte não assinou convênios com comunidades terapêuticas. Essa pressão foi o estopim para que ela e dois subordinados deixassem o cargo em abril deste ano.


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