Folha de S. Paulo


Para oposição, declaração de ministra sobre Bolsa Família é 'irresponsável'

Líderes oposicionistas reagiram nesta segunda-feira (20) e disseram ser "irresponsável e leviana" a declaração da ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) responsabilizando a "central de notícias da oposição" pelos boatos sobre o fim do Bolsa Família, principal programa social do governo. A oposição ameaça convocar a ministra para explicar a declaração na Câmara.

A fala da ministra foi publicada hoje em sua conta no Twitter. No fim de semana, uma onda de boatos provocou tumulto em pelo menos dez Estados, levando milhares de pessoas a lotéricas e agências da Caixa Econômica Federal, para sacarem seus benefícios. Pessoas passaram mal e desmaiaram. Houve brigas e terminais foram depredados.

Em AL, boato sobre fim do Bolsa Família correu entre vizinhos
PF vai investigar origem de boatos sobre fim do Bolsa Família

O governo desmentiu que o programa vai acabar e determinou que a Polícia Federal investigue o caso.

Reprodução/Twitter/_mariadorosario

Insatisfeito com a declaração da ministra, o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), afirmou que vai propor que a Comissão de Segurança da Casa convoque Maria do Rosário para dar explicações sobre a sua fala a respeito dos boatos sobre o Bolsa Família.

"Tenho uma profunda admiração pela ministra Maria do Rosário e custo a acreditar que uma declaração de tamanha irresponsabilidade tenha partido dela. Estou apresentando o requerimento de convocação da ministra na Comissão de Segurança para dar a ela a oportunidade de retratar-se", afirmou.

O tucano cobrou celeridade do governo na investigação. "O governo tem de usar todos os seus instrumentos de investigação para descobrir com a máxima urgência a origem da boataria para que os responsáveis sejam punidos com rigor. É uma atitude criminosa, que afeta a população mais carente", afirmou Sampaio.

Segundo o vice-líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), a ministra coloca em dúvida a apuração que será feita pelo governo.

"Se o governo anunciou que vai investigar, como pode antecipar-se e acusar irresponsavelmente a oposição?", questionou o tucano. "Poderíamos dizer que foi o governo que agiu dessa forma para prejudicar a oposição, mas não somos irresponsáveis de fazermos essa acusação", completou.

Álvaro Dias afirmou que "qualquer que seja o objetivo do boato é um desrespeito especialmente àqueles que se beneficiam do programa".

O Bolsa Família, que contempla 13,8 milhões de famílias e completa dez anos em outubro, é o principal programa de transferência direta de renda do governo. Ele tem forte peso político-eleitoral, tendo virado um dos símbolos das gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Para o presidente do DEM, senador José Agripino (RN), a ministra precisa apontar quem da oposição estaria interessado nessa ação e quais seriam os motivos para deflagrar essa operação.

"De um ministro se admite tudo, menos leviandade. A oposição tem rosto, então, nomine quem da oposição [fez o boato]", afirmou.

Agripino disse que o Planalto deve estar preocupado porque o caso mostrou que o programa não tem resultado prático.

"O governo deve estar inquieto porque não está cumprindo seu objetivo de tirar as pessoas da miséria. Quando veio a notícia de que iria falhar, ficou evidente que o programa não deu alternativa para as pessoas."

O presidente da MD (Mobilização Democrática), deputado Roberto Freire (SP), disse que Maria do Rosário tem uma postura "irresponsável".

"Isso mostra que o governo não tem limite em sua desfaçatez. Essa é uma declaração irresponsável", afirmou. "Não faz o menor sentido. Nas eleições, por exemplo, a oposição é sempre acusada injustamente e de forma eleitoreira de querer acabar com o programa".

Na mensagem, a ministra não dá nenhum tipo de detalhe do motivo pelo qual aponta a oposição como culpada pelos rumores que levaram tumultos e confusões a agências bancárias e lotéricas no fim de semana.

Diana Brito/Folhapress
Tumulto em frente a agência da Caixa Econômica em Queimados, na Baixada Fluminense
Tumulto em frente a agência da Caixa Econômica em Queimados, na Baixada Fluminense

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