Folha de S. Paulo


Perito diz ter certeza que namorada matou PC Farias

Responsável pelo depoimento mais longo até o momento no julgamento dos quatro ex-seguranças de Paulo César Farias, morto em 1996 ao lado namorada, Suzana Marcolino, o perito Badan Palhares disse ter "certeza absoluta" que Suzana matou PC e depois se suicidou.

Ao depor na noite desta quarta-feira (8), em Maceió, ele ainda admitiu um "lapso" em sua perícia, já que não incluiu a altura de Suzana no documento. A ausência do dado, importante para determinar a trajetória da bala, serviu para a Justiça determinar um novo laudo, que acabou provocando a reabertura do caso.

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"O local do crime define por si só que aquilo foi um homicídio seguido de suicídio. Pelos anos de vida, e me dediquei muitos, tenho certeza absoluta", disse ele, que é o autor do laudo adotado pela defesa dos ex-seguranças.

Uma nova perícia, determinada depois pela Justiça e coordenada pela equipe de Daniel Muñoz, da USP, embasou a conclusão da segunda investigação policial, de 1999, que descartou a primeira e apontou duplo homicídio.

Palhares é fundador do Departamento de Medicina Legal da Unicamp e atuou em outros casos de repercussão como os massacres de Eldorado do Carajás e da penitenciária do Carandiru, o assassinato do seringueiro Chico Mendes e parte das análises de reconhecimento facial do médico nazista Joseph Mengele.

"Hoje, eu não tenho dúvida nenhuma. Antes até tinha, mas depois de ir aos Estados Unidos, mostrar o laudo para 1.500 peritos de lá e apresentá-lo a três dos maiores do mundo em manchas de sangue, não tenho mais", disse Palhares, que está proibido de deixar Maceió porque pode voltar a ser interpelado.

Seu depoimento durou 2h30, e ainda houve mais uma hora de perguntas da Promotoria e da defesa, avançando até as 21h30 desta quarta-feira (8) no Fórum da Capital. Foi também o dia com a sessão mais demorada desde segunda. A previsão do juiz Maurício Breda é de que a sentença saia no sábado.

Badan Palhares disse que a distância dos tiros (3 cm no caso de Suzana), as manchas de sangue, a trajetória das balas, a ausência de agressões físicas no casal e a porta trancada com a chave para dentro do quarto são alguns dos elementos que justificam sua análise.

Ele ainda afirmou que Suzana estava apaixonada por outra pessoa, um dentista de São Paulo, conforme provado em ligações de seu telefone celular no dia das mortes, há quase 17 anos.

"Acredito que Suzana teve um motivo, os meios, por possuir uma arma, e a oportunidade, por ser a única pessoa no quarto", disse o perito.

Palhares também sustentou que, apesar de fotos de fotos divulgadas pela Folha em 1999 terem indicado o contrário, Suzana era maior do que PC (1,67 m contra 1,63 m). A altura de ambos é importante para explicar a trajetória dos disparos.

O CASO

Tesoureiro de campanha do ex-presidente Fernando Collor em 1989, PC Farias foi o articulador do esquema de corrupção no governo denunciado à época.

Segundo a Promotoria, a morte de PC foi investigada como "queima de arquivo", pois ele era acusado de sonegação de impostos e enriquecimento ilícito e poderia revelar outros envolvidos.

Os PMs Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva são acusados de participação nas mortes ou, no mínimo, de omissão ao não evitá-las, já que eram seguranças de PC.

"A tese do suicídio de Suzana foi descartada pelos peritos", disse o promotor Marcos Mousinho, em referência às primeiras conclusões da polícia, em 1996, de que Suzana havia matado PC por ciúme e, depois, se suicidado.

Investigações posteriores mostraram que o primeiro laudo, do legista Badan Palhares, considerava Suzana mais alta do que realmente era --ponto crucial para compreender o disparo. Palhares sempre defendeu seu laudo.

Em 1999, a Folha publicou fotos que mostravam que Suzana era mais baixa que PC.


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