Folha de S. Paulo


editorial

À espera da Alemanha

Michael Kappeler/Associated Press
German Chancellor Angela Merkel speaks behind the red light of a TV camera during a press conference after a board meeting of her Christian Democratic Party CDU in Berlin, Germany, Monday, Nov. 27, 2017. (Michael Kappeler/dpa via AP) ORG XMIT: FOS106
A chanceler alemã, Angela Merkel

De saída, era evidente que a vitória de Angela Merkel nas eleições parlamentares da Alemanha se fazia acompanhar de reveses, entre eles a perda de cadeiras de sua base e a concomitante ascensão da direita ultranacionalista.

Passados mais de dois meses, a dificuldade em estabelecer uma coalizão apenas comprova que a chanceler se vê diante de um caminho mais tortuoso para concluir o mandato em 2021 —e completar 16 anos no poder, algo que só Helmut Kohl, condutor da reunificação alemã, conseguiu alcançar.

O impasse nas negociações, há de se reconhecer, não decorre de algum questionamento sobre a capacidade de governança de Merkel, mas sim de desarranjos envolvendo outros partidos, notadamente o social-democrata SPD.

Este formara uma grande aliança com a CDU (União Democrata-Cristã), sigla de primeira-ministra, após o pleito de 2013. Desta vez, entretanto, militantes se mostram mais resistentes ao apelo do líder da legenda, Martin Schulz, por nova parceria com os conservadores.

Argumentam, para tanto, que suas plataformas sociais tendem a se desvirtuar caso o SPD se contente em desempenhar papel secundário numa eventual composição.

Tal raciocínio perde força quando cotejado com a linha seguida pela administração nos últimos anos. Durante a crise dos refugiados, por exemplo, tomaram-se medidas que desagradaram muito mais ao eleitorado da própria CDU.

A bem da verdade, a Alemanha está longe de um cenário de instabilidade real por ainda não haver governo constituído —as instituições e a economia continuarão funcionando, quaisquer que sejam as forças à frente do país.

A cobrança por um desfecho ocorre mais pelo efeito negativo à imagem de Merkel. Afinal, a demora para firmar maioria no Parlamento indica fraqueza política, o que não convém a uma mandatária que representa o maior PIB da União Europeia —e, com o esvaziamento do Reino Unido, também a principal líder do continente.

À medida que as tratativas se alongam, ganha corpo dentro da CDU a ideia de um governo de minoria, no qual seria necessário buscar o apoio dos demais partidos a cada votação no Legislativo.

Para evitar tal desgaste, a chanceler preferiria a convocação de novas eleições no início de 2018, confiante em que se manteria no cargo.

Com efeito, não se apresenta no momento nenhuma outra agremiação capaz de suplantá-la nas urnas. Existe, porém, o risco de que se chegue a um resultado semelhante ao de 24 de setembro, o que poderia levar a mais um dispendioso período de articulações.

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