Outubro, mês em que se celebra o Dia do Médico (18/10), é momento oportuno para a reflexão acerca dos desafios da medicina brasileira, valorização do médico e qualidade do ensino.
Quanto ao último quesito, infelizmente temos assistido a uma preocupante expansão indiscriminada de escolas médicas. São 291 cursos no país, e chegará a 317 em breve. Tal crescimento, no entanto, não tem sido acompanhado da ampliação do número de hospitais-escolas ou de residência médica para o exercício prático do aprendizado em sala de aula.
O Brasil é um dos países que mais possuem cursos de medicina. Mais que os Estados Unidos e até mesmo que a China, onde há quase 1,4 bilhão de habitantes. A proliferação de estabelecimentos de ensino privados sem um controle rigoroso compromete a qualidade do ensino dos jovens estudantes, configurando-se como um risco à formação dos novos médicos.
O ensino médico de qualidade é basilar para a valorização do futuro médico. É fundamental, também, para a boa assistência prestada à população nos hospitais, prontos-socorros, consultórios e demais serviços de saúde.
Mas melhorar a formação médica é apenas um dos pilares para a boa saúde. É desejável que ela seja acompanhada do aprimoramento das condições de trabalho do médico e da valorização dos bons profissionais, que são maioria em nosso país e fazem um ótimo trabalho.
Estamos em um momento de expressiva dificuldade orçamentária e de recursos estruturais para a saúde. Com a crise econômica e o desemprego, milhares de pessoas perderam seus planos privados e agora têm como único recurso os sempre lotados serviços do SUS (Sistema Único de Saúde), onde a precarização da estrutura das unidades é visível em muitos casos, e não raro faltam materiais e medicamentos básicos.
A agonia de esperar horas pelo atendimento em unidades de pronto-atendimento tem provocado, lamentavelmente, episódios de agressões verbal e física contra os médicos.
O profissional fica vulnerável, exposto e tem sua integridade ameaçada em razão de uma questão sistêmica, que são as filas e falta de condições de atendimento em serviços de saúde, especialmente na periferia.
Sem contar, ainda, situações não raras em que médicos passam meses sem receber suas remunerações, seja por parte do poder público ou de instituições filantrópicas, como Organizações Sociais e algumas Santas Casas, que atendem pelo SUS.
As condições de trabalho do médico têm sido alvo de atenção por parte do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo). Temos realizado visitas presenciais nos serviços de saúde para conhecer de perto o retrato da realidade e o esforço dos médicos mesmo diante da falta de estrutura, de condições de trabalho adequadas e da precariedade.
O exercício digno da medicina também passa, indubitavelmente, pela defesa do ato médico. No entanto, é preciso destacar que a saúde é multidisciplinar e multiprofissional.
Desta forma, respeitada a legislação vigente em nosso país, há espaço para todos, conforme a formação de cada profissional, e o maior beneficiário certamente serão os pacientes e a sociedade.
O Cremesp defende a valorização dos médicos, em prol da sociedade, e mais qualidade no ensino da medicina. Para isso é preciso haver políticas públicas mais eficientes, que sejam respaldadas nos reais interesses do país, dos futuros médicos, da boa prática médica e do bom atendimento da população.
LAVÍNIO NILTON CAMARIM, cirurgião do aparelho digestivo, é presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp)
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