Folha de S. Paulo


WALDOMIRO CARVAS JUNIOR

O prazer e a importância de lutar por uma causa

Fábio Guinalz/FramePhoto/Folhapress
SBT, em parceria com a AACD, promove uma coletiva para falar sobre o “Teleton 2016”, que acontece entre os dias 4 e 5 de novembro, em SP
SBT, em parceria com a AACD, promove evento para falar sobre o Teleton, na edição do ano passado

Estamos às vésperas da 20ª edição do Teleton. Nestes anos, além de importante ferramenta de arrecadação de recursos, contribuiu para a aceitação e inserção de pessoas portadoras de deficiências físicas em nossa sociedade.

O "Telethon –TELEvision maraTHON– surgiu em 1966, nos EUA, criado pelo comediante Jerry Lewis para levantar recursos para a Associação de Distrofia Muscular. Durante 45 anos, o ator conduziu essa maratona televisiva.

O empresário e apresentador Mario Kreutzberger (nome artístico Don Francisco), que detinha os direitos desse formato para a América Latina, lançou em 1978 o Teletón no Chile, voltado para pessoas portadoras de deficiências físicas.

Em 1982, Clóvis Scripilliti, então presidente do Conselho da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), percebeu a relevância da iniciativa e negociou com Don Francisco os direitos para realização do Teleton aqui no Brasil.

Em 1997, o empresário Décio Goldfarb assumiu a presidência voluntária da AACD e definiu como uma de suas metas modernizar as instalações e ampliar a capacidade de atendimento da AACD. E o Teleton poderia desempenhar papel importante na geração de recursos.

No final daquele ano, Décio procurou Hebe Camargo e mostrou o que era o Teleton; ela entusiasmou-se com o projeto e promoveu um encontro com Silvio Santos. Ambos, Silvio e Décio, logo se acertaram, e ficou decidido que o SBT seria a casa do Teleton brasileiro.

Entretanto faltava ainda o dinheiro para produzir o primeiro programa. Nesse momento, entraram em cena duas pessoas fundamentais: Lázaro Brandão e André Beer.

Scripilliti agendou reunião com Lázaro Brandão, na sede do Bradesco, para que o banqueiro entendesse o que se pretendia realizar. Após menos de uma hora, Brandão, demonstrando sua visão de futuro, assinou um cheque no valor de metade do custo total da produção.

Alguns dias depois, Scripilliti visitou André Beer na sede da GM, em São Caetano do Sul (SP). Após a apresentação do projeto, a montadora também concedeu uma doação equivalente à outra metade.

A primeira edição do Teleton aconteceu em 16 e 17 de maio de 1998 e mudou a história do que hoje se chama marketing de causa. Produção cuidada, centenas de artistas participando durante quase 27 horas de programa, todos os estúdios e equipes do SBT à disposição da AACD, várias rádios fazendo parte da Rede de Solidariedade. E algo ao redor de US$ 14 milhões captados. A AACD ganhou projeção nacional, multiplicando várias vezes sua capacidade de atendimento.

O Teleton e a AACD devem muito a estas pessoas: Clóvis Scripilliti, por ter tido a sensibilidade de identificar uma nova ferramenta de captação de recursos e negociado a exclusividade dos direitos para o Brasil; Décio Goldfarb, pela determinação em fazer acontecer esse "sonho"; Hebe Camargo, madrinha do Teleton, decisiva para que o SBT abraçasse a causa; Silvio Santos, pela sensibilidade e desprendimento em abrir mão de receitas por mais de 24 horas; Lázaro Brandão, o primeiro a confiar naquele ousado projeto; e André Beer, que viabilizou o dinheiro faltante.

Pessoas como estas mudam o mundo. Para melhor.

WALDOMIRO CARVAS JUNIOR é empresário e ex-voluntário da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente)

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