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O básico no centro

Fernando Donasci/Folhapress
Vista aerea do centro de SP
Vista aerea do centro de SP

A atenção do Estado e do município e a abertura de diversos centros culturais não se mostraram suficientes para recuperar o centro de São Paulo, depois de décadas de depauperação e esvaziamento.

A gestão João Doria (PSDB) anunciou no mês passado um projeto do urbanista Jaime Lerner (ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná) para revitalizar a área, com patrocínio do sindicato do setor imobiliário.

A iniciativa sucede a mais de uma dezena de outras, prometidas por diferentes prefeitos nos últimos 20 anos, que não saíram do papel. Nem mesmo é a primeira de autoria de Lerner.

Seminário sobre o tema promovido por esta Folha revelou alguns consensos. O centro precisa de mais moradores, de diferentes rendas e perfis, de maior uso à noite e nos finais de semana; precisa, especialmente de zeladoria.

No evento, a plateia aplaudia quando especialistas falavam em retornar ao básico: limpeza, manutenção de calçadas, iluminação e segurança. De problemas sociais que só se agravaram nos últimos anos, desde dependentes químicos vagando pela região até o número de paulistanos dormindo em calçadas ou sob marquises.

Obras recentes, tanto da gestão Gilberto Kassab (PSD), que reabriu para os carros o calçadão da rua 24 de Maio, quanto de Fernando Haddad (PT), que fechou o trânsito na rua Sete de Abril, foram entregues com péssimo acabamento, um desleixo suprapartidário com dinheiro público.

Especialmente na área dos calçadões -que reúne edifícios com ocupação restrita ao térreo, por comércios-, o poder público ainda não testou opções que impeçam a sensação de insegurança predominante no período noturno.

Falou-se ainda na morosidade da burocracia, da prefeitura aos bombeiros. Fora os gastos para readequação dos sistemas elétrico, hidráulico, de segurança e conectividade digital, será difícil convencer moradores a pensar no centro se qualquer processo levar o triplo do tempo verificado em áreas mais novas da cidade.

editoriais@grupofolha.com.br

Políticas sociais mais ousadas e uma zeladoria mais constante poderiam reocupar parte da região, que já vê com certo ceticismo projetos grandiosos quando nem o básico consegue ser atendido.


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