Os britânicos pregaram nova peça em seus governantes. Depois de decidirem pela saída da União Europeia no plebiscito do ano passado, desta vez impuseram ao partido conservador um revés antes inesperado –a perda da maioria legislativa nas eleições antecipadas por iniciativa da primeira-ministra, Theresa May.
Apesar de se manterem como maior força no Parlamento, os conservadores perderam 13 cadeiras, ficando com apenas 318 em um total de 650. Em contrapartida, os trabalhistas melhoraram sensivelmente sua posição, obtendo 262 assentos, 33 a mais que antes.
É uma derrota pessoal para May, que convocou o pleito fiando-se na liderança folgada em pesquisas de intenção de voto. Sua meta era obter um mandato claro do eleitorado para negociar o "brexit".
Com o resultado, porém, a premiê do Reino Unido sai enfraquecida. Além de prováveis ataques à sua liderança dentro do próprio partido, que podem levar a sua destituição em prazo não muito longo, será forçada a formar uma coalizão com o diminuto partido unionista da Irlanda do Norte.
Às vésperas do início das negociações com a UE, May conseguiu exatamente o oposto do que pretendia. Está diante de um ambiente político dividido, que limitará sua margem de manobra para negociar um bom acordo para o país.
O desafio já era grande o bastante quando havia maioria consistente no Parlamento. Trata-se, afinal, da maior alteração institucional do pós-guerra, a ser promovida em prazo exíguo.
A perspectiva de uma ruptura radical amedrontou segmentos do eleitorado e levou a um expressivo comparecimento às urnas. O avanço trabalhista se deu especialmente entre os jovens e em áreas desenvolvidas, confortáveis com o impacto da globalização.
Não haverá reversão do "brexit", mas o resultado da eleição deixa clara a divisão nacional, o que exigirá dos conservadores mais diálogo com os oposicionistas.
Britânicos e europeus têm até março de 2019 para chegar a algum acordo, ainda que transitório. Um divórcio não amigável será o pior cenário para todos.