Folha de S. Paulo


José Antonio Llorente

A terceira onda espanhola no Brasil

No final dos anos 1990, o Programa Nacional de Desestatização brasileiro começou a atrair empresas espanholas. Até então, Chile, Argentina e Venezuela eram a prioridade e recebiam a maior parte do dinheiro espanhol trazido para a América Latina.

Com o programa, contudo, a Espanha passou a ser o maior investidor estrangeiro no Brasil, superando até mesmo os Estados Unidos. Os negócios atingiram, só no ano 2000, a cifra de US$ 6 bilhões, alavancados sobretudo pelos investimentos da Telefônica e do Santander no Brasil.

Naquele momento, ambas as empresas não mediram esforços e pagaram preços considerados altos para iniciar aqui as operações, de forma mais segura, com a compra da Telesp e do Banespa, respectivamente.

A segunda onda de investimento aconteceu cerca de dez anos depois. A Telefônica, já consolidada no país, voltava a colocar a mão no bolso e anunciava um investimento de US$ 7 bilhões, principalmente focado na expansão da telefonia celular.

Já o Santander era ainda mais audacioso e comprava o Banco Real por cerca de US$ 17 bilhões, consolidando-se como um dos cinco maiores bancos em atividade no Brasil.

Esses movimentos fizeram com que as empresas espanholas ficassem conhecidas como "agressivas" pelo mercado brasileiro. Em apenas dez anos, os investimentos espanhóis já atingiam a casa dos US$ 40 bilhões. Hoje já somam estoque de ativos, segundo a própria Embaixada da Espanha no Brasil, na casa dos US$ 80 bilhões.

E depois continuaram chegando novos investimentos: linhas de transmissão de energia, concessão de rodovias, exploração de petróleo, turismo, tecnologia e inovação, entre outros. A Espanha finalmente descobrira o Brasil, 500 anos depois do Tratado de Tordesilhas.

Agora, a vinda ao Brasil do presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, pode significar o início de uma terceira onda de investimentos.

O principal foco de interesse é a nova frente de concessões, principalmente na área de infraestrutura, anunciada no ano passado pelo presidente Michel Temer.

Além das estradas, as empresas espanholas têm interesse em outros empreendimentos de longo prazo, como aeroportos, portos e ferrovias.

São empresas de todos os setores e tamanhos. Até mesmo as pequenas e médias já atravessaram o oceano Atlântico. Hoje já são 971 companhias no Brasil, e a Câmara Espanhola de Comércio em São Paulo é uma das mais atuantes no país. Mas pode ser ainda melhor.

A Espanha é uma defensora aguerrida de um acordo entre União Europeia e Mercosul. Gostaria de vê-lo concretizado o quanto antes, quem sabe até o fim deste ano.

Para que o acordo seja assinado, Espanha e Brasil precisam tomar o protagonismo das ações e serem "agressivos" como as empresas. Afinal, ambos seriam os mais beneficiados com o livre comércio entre os dois blocos. Em 2016, a corrente de comércio entre os dois países somou US$ 5,16 bilhões.

JOSÉ ANTONIO LLORENTE, membro do conselho assessor da Confederação Espanhola das Pequenas e Médias Empresas, é presidente da consultoria Llorente & Cuenca

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