Folha de S. Paulo


editorial

Poluição mundial

É sombrio o cenário traçado pela Organização Mundial da Saúde a respeito da qualidade do ar no planeta. Dados coletados em cerca de 3.000 cidades de 103 países mostram que mais de 80% dos moradores desses locais estão expostos a níveis de poluição que excedem os limites recomendados.

Em nações de renda baixa e média, nada menos que 98% dos municípios com mais de 100 mil habitantes estão nessa situação.

As estatísticas do órgão da ONU baseiam-se nas concentrações de dois tipos de material particulado, o PM2.5 e o PM10 —uma combinação tóxica de sulfatos, nitratos, amônia, poeira e outros compostos químicos, a maioria deles originária de atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis.

Embora o mundo inteiro seja afetado, o maior impacto ocorre no Oriente Médio, na África e no sudeste da Ásia, onde o processo de crescimento acelerado está por trás de índices de poluição de cinco a dez vezes acima do aceitável.

Das 30 cidades com maior concentração de PM2.5, por exemplo, 16 estão na Índia. A China vem em seguida, com cinco. Nove outros países, incluindo Camarões, Irã e Paquistão, completam a lista.

No Brasil, o cenário não é tão dramático, ainda que inspire cuidados. A poluição média na Grande São Paulo é cerca do dobro do aconselhado pela OMS. A recordista do país é Santa Gertrudes, pequena cidade paulista que concentra o maior polo ceramista nacional, cujos índices de concentração de PM2.5 e PM10 são, respectivamente, quatro e nove vezes acima do considerado saudável.

A má qualidade do ar impõe enormes custos. A poluição constitui o maior risco ambiental à saúde, aumentando a prevalência de doenças coronárias e pulmonares e provocando diretamente mais de 3 milhões de mortes.
São efeitos que reduzem a produtividade do trabalho e oneram os sistemas de saúde.

O problema tende a se agravar no futuro. Hoje, aproximadamente 55% da população mundial vive em meios urbanos, percentual que deve atingir 70% em 2050. Tal processo leva ao incremento das fontes poluidoras industriais e ao aumento do tráfego de veículos.

A melhora da qualidade do ar passa inevitavelmente pelo controle das emissões de gases do efeito estufa. Trata-se, portanto, de motivo a mais para que todos procurem cumprir as metas estipuladas no Acordo de Paris sobre o clima.

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