Folha de S. Paulo


editorial

Catálogo planetário

Esta foi uma grande semana para os astrônomos que buscam planetas fora do Sistema Solar. A Nasa, agência espacial norte-americana, anunciou a descoberta de 1.284 novos mundos.

De uma só vez, o catálogo dos planetas encontrados pela sonda espacial Kepler mais que dobrou, passando de 1.041 para 2.325 (ao todo, são conhecidos cerca de 3.300).

Todos orbitam estrelas localizadas numa fresta do céu entre as constelações de Cisne e Lira, onde a sonda, lançada em 2009, passou quatro anos escrutinando cerca de 150 mil astros brilhantes.

Essencialmente um telescópio com câmera supersensível acoplada, o Kepler registrou de forma contínua a luz emitida por essas estrelas. Corpos que transitam diante delas provocam pequenas variações em seu brilho, base do método para detecção de planetas.

Como outros fenômenos interferem no brilho das estrelas –caso de variação natural da atividade estelar ou da presença de outra estrela próxima–, os astrônomos precisavam recorrer a novas observações, feitas a partir da Terra, para ter certeza de que de fato avistavam novos planetas.

Graças a um novo método desenvolvido pela equipe da sonda Kepler, tornou-se possível validar muitos candidatos de uma vez.

Basicamente, analisa-se a interferência provocada no brilho da estrela levando-se em conta a probabilidade de ela resultar de outro fenômeno que não um planeta. Se a chance de ser um planeta superar 99%, ele será confirmado.

A nova técnica acelera a análise dos dados coletados e torna dispensáveis observações adicionais.

Dentre os astros anunciados nesta semana, destacam-se aqueles cuja distância de suas estrelas é compatível com a existência de água líquida e, presume-se, de seres vivos. Aos 12 encontrados previamente pela sonda juntaram-se nove.

Com os novos dados, os astrônomos estimaram quantos planetas em zona habitável existem na Via Láctea: nada menos que 10 bilhões.

Chegar até eles, porém, não é algo para essa geração. O mais próximo estaria a 11 anos-luz daqui, numa jornada que levaria milhares de anos com as atuais tecnologias.

Após inaugurar uma nova era na astronomia, a missão Kepler deve ser encerrada neste ano. A sonda deixa um inestimável legado para os futuros telescópios, como o Tess, a ser lançada pela Nasa em 2017, e que irá ampliar para todo o céu a busca por novos mundos.

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