O turista estrangeiro tem o mundo à disposição. O que faria um chinês escolher o Brasil em vez de a Tailândia? Um alemão cruzar o Atlântico em vez de ir para a Croácia ou a França? Um americano optar por nossas praias no lugar de ficar no Caribe, no meio do caminho?
A escolha do destino é pautada por vários fatores. No lado da emoção estão questões como a imagem e o desejo construídos ao longo do tempo. Do lado da razão temos itens como custo e exigência de vistos.
A presença do Brasil no mercado global de viagens ainda é tímida se comparada com o seu potencial ou com países que, de fato, encaram o turismo como um vetor econômico. Estamos na 39ª posição no ranking de países onde os estrangeiros mais gastam, atrás de países como Vietnã, República Tcheca e Polônia. Enquanto o México arrecadou US$ 17 bilhões com turismo internacional, o Brasil faturou só US$ 6,9 bilhões.
Em compensação, na lista de nações que mais gastam mundo afora, estamos na 10ª colocação. O resultado é um deficit histórico na balança comercial do turismo que, em 2014, chegou a US$ 18,7 bilhões.
O prejuízo é maior que a soma de toda a arrecadação do Brasil com a exportação de aviões, carros, celulose e carne. Nos cinco primeiros meses deste ano, já acumulamos US$ 5,79 bi negativos na balança. Enquanto o Brasil não desatar nós que dificultam o crescimento do turismo, continuaremos no vermelho.
A cada vez mais acirrada disputa pelo turista impõe aos destinos a necessidade de criar facilidades e estratégias ainda mais agressivas na captação desse público.
Do lado da emoção, o Brasil vai reformular toda a estratégia de promoção internacional. Encomendei ao presidente da Embratur, Vinicius Lummertz, uma proposta de reforma da autarquia. A ideia é transformá-la em agência para garantir mais agilidade, transparência e facilitar parcerias com a iniciativa privada na divulgação dos nossos destinos.
Do lado da razão, estamos atacando itens como visto, infraestrutura e conectividade. Não podemos, por exemplo, continuar exigindo vistos para mercados emissores estratégicos como os Estados Unidos.
Temos de, ao contrário, estender um tapete vermelho para o visitante. Cativá-lo, fazer de tudo para que ele viva experiências inesquecíveis, fale bem do Brasil, difunda belas imagens nas redes socais e volte.
De acordo com estudo do Fórum Econômico Mundial, o Brasil ocupa a 91ª colocação num ranking de 141 países na dimensão "abertura internacional". No subitem que avalia o percentual da população mundial que necessita de visto para entrar no país, caímos para 102ª colocação. O dado é revelador e crítico num ano pré-Olimpíada.
Durante a Copa de 2014, o país flexibilizou os vistos para viajantes com ingressos para o evento. Cerca de 100 mil vistos especiais foram emitidos e 1 milhão de estrangeiros visitaram o país. Em junho e julho registramos entrada recorde de dólares pelo turismo: US$ 1,58 bilhão, incremento de quase 60% em relação ao mesmo período de 2013.
Atualmente, mesmo com exigência de visto, os EUA são o 2º maior mercado emissor para o Brasil (592,8 mil em 2013), o que mais gasta (US$ 1.427 por pessoa) e mais permanece no país a lazer (20,6 dias).
Os ministérios do Turismo e das Relações Exteriores têm trabalhado em parceria para encontrar soluções que permitam ao Brasil eximir de vistos mercados prioritários.
O tempo corre contra nós. Cada dia que permanecemos com as mesmas estratégias e amarras para o desenvolvimento do potencial econômico do turismo no Brasil, é um dia que perdemos na luta por reverter, igualar ou, ao menos, diminuir o deficit da nossa balança comercial.
Se continuarmos a olhar para o turismo como uma área supérflua da economia, os empregos que poderíamos gerar ficarão na ficção. Se queremos transformar o setor de viagens num vetor do desenvolvimento econômico, entre outras coisas, sem visto será mais fácil.
HENRIQUE EDUARDO ALVES, 66, é ministro do Turismo. Foi presidente da Câmara Federal (2013-15)
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