Folha de S. Paulo


opinião

Yoel Barnea: Combate ao antissemitismo

Neste mês, 800 delegados de mais de 51 países viajaram a Israel para discutir o eclipse que turvou as ruas da Europa em intensidade crescente nos últimos tempos.

O 5º Fórum Global de Combate ao Antissemitismo se reuniu entre os dias 12 e 14 em Jerusalém para discutir a renovada ameaça para as comunidades judaicas e indivíduos ao redor do mundo, uma ameaça que esperávamos pertencer exclusivamente ao passado.

Na mesma semana que a Europa celebrava o septuagésimo aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, esses delegados interessados tentaram entender –nos debates na capital de Israel– como o voto de sete décadas atrás de "nunca mais" foi esquecido por tantos.

O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, no seu discurso de abertura do fórum, fez a mesma pergunta, ressaltando que depois do fim dessa Guerra e a revelação dos horrores do Holocausto, muitos acreditaram que a humanidade iria se desfazer de um dos ódios mais antigos existentes, o antissemitismo.

O antissemitismo de hoje não se limita a setores do islã militante nem a alguns elementos xenofóbicos marginais da sociedade europeia. Ele está mascarado no chamado pensamento progressista do Ocidente. Alguns que se consideram campeões da tolerância transformam-se em intolerantes natos quando se trata de judeus e o Estado judeu.

O antissemitismo clássico representava os judeus como a personificação do mal. O antissemita moderno retrata o Estado judeu como a personificação do mal. Esse Estado é tratado hoje no âmbito internacional da mesma maneira que os judeus foram tratados pelas nações ao longo de muitas gerações.

E, é claro, não somos perfeitos e há muito que pode e deve ser melhorado no Estado de Israel. Mas construímos uma sociedade magnífica, que contribui à comunidade internacional com seus logros e experiências. Como é possível que Israel seja caluniado e difamado como nenhum outro país o foi?

Provavelmente porque hábitos, costumes e vícios morrem com muita dificuldade.

Recentemente, houve um aumento considerável da violência contra indivíduos judeus, comunidades, instituições, escolas e sinagogas na Europa e em outros continentes. Judeus foram submetidos a terríveis discursos de ódio e a ataques físicos enquanto suas sinagogas e cemitérios eram profanados.

Do lado positivo, o ano de 2014 testemunhou muitos líderes mundiais se manifestando para denunciar esse crescimento, incluindo fortes condenações de antissemitismo emitido por chefes de Estado e por Ministros das Relações Exteriores da Itália, França e Alemanha.

Uma das principais mensagens que o Fórum Global de Combate ao Antissemitismo espera transmitir é que essa forma de ódio não é um problema apenas para o povo judeu. Onde quer que o antissemitismo seja permitido, as violações à liberdade de expressão e dos direitos básicos de outras minorias –das mulheres, dos ciganos, de minorias étnicas e da comunidade LGBT– seguirão ocorrendo.

No final, até mesmo o direito de viver livre do medo, da intolerância na direção de qualquer um com uma opinião diferente, aparência ou crença, será colocado em dúvida.

YOEL BARNEA é cônsul-geral de Israel em São Paulo

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