Folha de S. Paulo


Editorial: Custo do homicídio

De 2002 a 2012, 303.187 mil jovens foram assassinados no Brasil. Tais mortes não apenas provocaram inúmeros dramas familiares como também representaram perda irreparável para o país, que se viu privado de considerável contingente populacional cuja vida produtiva acabara de começar.

Reportagem publicada pelo jornal "Valor Econômico" indica o impacto dessa tragédia para a economia brasileira. De acordo com estimativa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o país desperdiçou, somente em 2014, R$ 88 bilhões (ou 1,6% do PIB) em decorrência dos homicídios de pessoas que têm de 15 a 29 anos.

Para chegar a essa cifra consternadora, os autores do estudo consideraram apenas o capital humano arruinado –isto é, o quanto esses brasileiros ainda poderiam ter produzido e consumido se tivessem permanecido vivos. Não se levam em conta, nesse caso, recursos despendidos com saúde e segurança, por exemplo.

Tantas mortes se inserem no contexto dos altos índices de violência nacional. O país ostenta uma taxa epidêmica que supera os 25 homicídios por 100 mil habitantes, dentre as 15 maiores do mundo. Mais da metade (53%) dos cerca de 55 mil assassinatos anuais atinge diretamente os jovens.

Preocupante em si, o efeito desse extermínio é agravado pela transição demográfica em curso. Em 2010, calcula o Ipea, o Brasil atingiu seu pico populacional na parcela de 15 a 29 anos, o que significa um total de 51 milhões pessoas.

Esse segmento deverá começar a diminuir de tamanho a partir de meados da década de 2020. Estima-se que, em 2050, tenha sido reduzido a cerca de 35 milhões.

Assim, não é difícil constatar o papel crucial que os jovens de hoje terão no desenvolvimento econômico e social do Brasil. Jamais a força de trabalho superará a atual.

É uma tragédia que a violência continue tirando a vida de tantos brasileiros no momento em que o país se depara com a necessidade de aumentar a produtividade da economia, a fim de enfrentar os desafios demográficos do futuro –a começar pela Previdência.

Se investir na qualificação da população surge como medida estratégica e urgente, há uma tarefa ainda mais básica e premente a ser cumprida: manter os jovens vivos.


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