Folha de S. Paulo


São Paulo deveria adotar táxi compartilhado? Não

ADILSON AMADEU: CONTRIBUIÇÃO PARA O SUCATEAMENTO DA FROTA

Ter mais por menos é sempre uma proposta tentadora e a economia colaborativa é bem-vinda ao propor que todos possam ganhar com o compartilhamento de bens e serviços. É simples e de fácil aplicação.

Na prática, entretanto, as coisas não funcionam bem assim. É o caso do táxi compartilhado. O projeto municipal esbarra na própria lei federal nº 12.468/2011 que regulamenta a profissão de taxista e define o serviço como um transporte público individual remunerado de passageiros e exige, em cidades com mais de 50 mil habitantes, o uso de taxímetro.

O projeto prevê a cobrança por trecho, tabelado. O passageiro embarca e desembarca onde deseja e tem mais comodidade –por exemplo, assento garantido e ar condicionado– desembolsando apenas um pouquinho a mais do que gastaria com ônibus, metrô ou trem.

Isso está certo? Não, está errado, pois não se pode comparar transporte de massa subsidiado com transporte individual (táxi), cujos custos são exclusivos do taxista.

Além disso, um veículo usado com carga e frequência máximas consome mais combustível, sofre maior desgaste e tem um custo de manutenção elevado.

Por lei, os táxis devem ter no máximo dez anos de uso. Na capital, a troca acontece, em geral, em torno dos cinco anos, quando os veículos começam a apresentar problemas, exigindo horas e dias parados trazendo prejuízo ao condutor. Como conciliar custos elevados com tarifas reduzidas?

O projeto do táxi compartilhado propõe a utilização de "caminhos alternativos aos das linhas de ônibus visando aumentar a velocidade média no percurso".

Ou seja, sugere que o taxista circule fora das faixas de ônibus, onde o usuário efetivamente ganha tempo e dinheiro, já que são os congestionamentos que encarecem o custo final. Por isso, acredito que o veto do prefeito Fernando Haddad foi correto.

O táxi-lotação oficial, criado em 1973, acabou extinto pela sua própria ineficiência, e não apenas por questões tarifárias.

Como no passado, hoje a medida não resultaria em benefício para a população, além de acirrar a competição nos pontos de maior demanda nos quais os ônibus e táxis já estão presentes.

Sob o aspecto ambiental, os ganhos da proposta também são discutíveis. A presença dos 33.700 táxis diante da frota de mais de 7 milhões de veículos registrados na cidade, não é significativa.

O próprio setor tem feito mais pelo meio ambiente. Segundo a Adetax (Associação das Empresas de Táxi do Município de São Paulo), praticamente 100% dos veículos das empresas fazem uso de combustíveis menos poluentes. São carros flex, movidos a GNV, híbridos e elétricos. Uma prática, em parte, também seguida pelos autônomos.

Ao tentar copiar a experiências de outros países, o projeto peca por não levar em conta aspectos culturais –pesquisas provam a preferência pelo transporte particular–, custos operacionais, legislação e situação do transporte público de massa local.

O táxi compartilhado não é solução para os problemas do setor. Continuará restrito a poucos. A categoria, obrigada a estender as jornadas para enfrentar a defasagem das tarifas em relação aos custos e à inflação, não foi ouvida.

Táxi não tem subsídio e sofrerá o impacto das medidas econômicas recém-anunciadas pelo governo federal (aumento de juros, IOF, Cide).

Apostar no compartilhamento visando exclusivamente à redução da tarifa só contribui para o sucateamento da frota em operação. Afinal, não existe almoço grátis.

ADILSON AMADEU, 64, empresário, é vereador em São Paulo pelo PTB

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