Folha de S. Paulo


Sérgio Rangel: Credibilidade em jogo

A seleção completará nesta segunda (23) o seu centésimo jogo em Copas do Mundo.

Quando a bola rolar no estádio Mané Garrincha, os brasileiros vão tentar diante de Camarões –já eliminado do torneio– a classificação para a segunda fase do Mundial.

No Rio de Janeiro e em várias cidades do mundo, agentes da Interpol (polícia internacional) e funcionários da Fifa estarão diante de computadores monitorando milhares de apostas feitas para o jogo.

Ralf Mutschke, diretor de segurança da Fifa e chefe da entidade para o combate à manipulação de resultados, já disse que a partida desta segunda-feira em Brasília é o jogo mais vulnerável do Mundial até agora.

Além de fora da Copa, os camaroneses já entraram em conflito por premiação, o que torna a delegação africana mais atraente para as máfias do mundo das apostas.

Mesmo com o jogo proibido no Brasil, o leitor pode hoje fazer de casa uma "fezinha" na partida de Brasília nos principais sites de apostas do mundo –alguns deles em português. Neste domingo (22), a derrota da seleção para Camarões pagava R$ 21, o empate, R$ 8, e a vitória brasileira, R$ 1,12 por cada real apostado.

Ao lado do doping, a manipulação de resultados é uma das maiores preocupações da Fifa nesta Copa do Mundo.

Na última quinta-feira, a polícia de Macau (China) prendeu 22 suspeitos de formarem uma das maiores organizações de apostas ilegais on-line, que arrecadou cerca de R$ 1 bilhão com as partidas do Mundial de futebol no Brasil.

O mercado das apostas on-line já começa a ser debatido na academia. De acordo com um estudo da Sorbonne –publicado no mês passado após dois anos de pesquisas–, as apostas esportivas movimentam atualmente mais de 200 bilhões de euros (cerca de R$ 600 bilhões) a cada ano –80% em sites ilegais.

Já o crime organizado lava anualmente mais de R$ 300 milhões por meio das apostas, ainda segundo o estudo da universidade francesa.

A Fifa não suspeita à toa. Nos últimos três anos, 67 escândalos foram revelados, a maioria no futebol. No ano passado, mais de 22 jogadores foram suspensos em El Salvador suspeitos de manipularem jogos. Na Inglaterra, atletas e empresários também foram presos. Juízes, jogadores, dirigentes são alvos constantes das máfias internacionais.

Os clubes brasileiros também são apontados como vulneráveis à manipulação de resultados, de acordo com a Sorbonne. Estima-se que os brasileiros vão apostar R$ 320 milhões somente na Copa.

Já as autoridades fingem que esse tema não existe. Nem a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) nem o governo monitoram o mercado das apostas até agora.

SÉRGIO RANGEL, 43, é repórter da Folha.


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