Folha de S. Paulo


Robson Braga de Andrade: O modelo brasileiro

Ao longo das últimas décadas, alguns países fascinaram os analistas com modelos específicos de desenvolvimento. Alemanha, Japão, China, as nações escandinavas e os tigres asiáticos, entre outros, encontraram caminhos para crescer e trazer bem-estar para os cidadãos.

Alternando momentos de alta e de baixa, como numa roda-gigante, o Brasil ainda procura estabelecer uma forma própria de fazer a economia se expandir, com ganhos permanentes para a população.

Devemos ter clareza do que queremos e de como chegar lá, desenhando um modelo próprio que incorpore boas práticas estrangeiras e deixe florescer o nosso jeito singular de resolver problemas.

Precisamos de planejamento de longo prazo, viabilizado por uma ação estratégica e pragmática. A elaboração das políticas públicas tem que ser orientada para o crescimento econômico e estar afinada não só com a realidade, mas também com nossa visão de futuro.

O desenvolvimento é geralmente identificado como um processo de expansão da renda per capita, ligado a modificações estruturais de uma sociedade que resultam em duradoura qualidade de vida.

Ele pressupõe bons índices em educação, saúde e segurança, assim como amadurecimento institucional e equilíbrio ambiental. Também requer acesso amplo à cultura e implantação de uma infraestrutura adequada. Não se limita ao crescimento econômico sustentado, mas sem ele, dificilmente prospera.

Parece um sonho ainda distante para nós, brasileiros. Mas igualmente o era para outros povos, que, trabalhando com foco, resolução e coesão social, conseguiram mudar o jogo em poucas gerações. Os sul-coreanos são o exemplo mais recente.

Temos vantagens. É verdade que o tamanho do país e da população impõe desafios maiores, mas também permite soluções abundantes. A nossa disponibilidade de recursos naturais é incomparável. Além disso, o brasileiro é um dos povos mais empreendedores do mundo.

Diferentemente do que ocorre com outros países, temos uma economia diversificada o suficiente para não precisarmos nos concentrar em poucos setores. Podemos atuar, de forma bem-sucedida, em várias frentes. Da mesma maneira, não necessitamos optar entre o mercado externo e o interno.

Em tempos de concorrência acirrada, nações fechadas ao comércio ficam para trás. Não há desenvolvimento isolado que perdure. Todas as experiências nesse sentido tiveram fôlego curto. Nossa indústria e setor secundário mostram capacidade de atender tanto a demanda doméstica como a exterior.

Temos maturidade para afastar o falso dilema que opõe atuação estatal e privada. Devemos andar juntos, em parceria. O Estado tem um papel importante no estímulo à atividade econômica, por meio de políticas de fomento, na construção da infraestrutura e na inovação tecnológica.

Governos atentos são fundamentais para a criação de um bom ambiente de negócios, no qual nossos produtos possam se tornar plenamente competitivos. A administração pública deve constantemente adotar medidas que estimulem investimentos, redução de custos da produção, desburocratização e produtividade do trabalho.

Enfim, podemos adaptar às nossas necessidades, sem precisar de nenhuma revolução no pensamento, características encontradas em diversos países, como o pragmatismo chinês, a resiliência japonesa, a obsessão pela educação dos sul-coreanos, a facilidade para fazer negócios dos norte-americanos e a força industrial alemã.

Tudo isso deve ser temperado com a nossa criatividade e boa disposição para a vida, formando o verdadeiro modelo brasileiro de desenvolvimento. É só uma questão de planejar, concretizar e persistir.

ROBSON BRAGA DE ANDRADE, 64, é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria

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