Folha de S. Paulo


Alergia a pólen foi tema de campanha eleitoral no Japão

Yoshikazu Tsuno/AFP
ORG XMIT: TOK928 Minami Sawada, an employee of Japanese weather forecasting company Weathernews displays some of the 1,000 pod-shaped pollen counting robots called
Funcionária da Weathernews, empresa de previsão do tempo japonesa, mostra robôs que detectam os níveis de pólen e ajudam nos boletins de previsão da concentração do alérgeno no ar

Durante a campanha para conquistar cadeiras do Legislativo para seu novo Partido da Esperança, a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, incluiu entre suas propostas acabar com a febre do feno (rinite e conjuntivite alérgicas causadas por pólen). No pleito do domingo (22), a sigla conquistou 50 cadeiras.

A doença ganhou status de plataforma eleitoral porque atinge um sexto dos japoneses todos os anos, segundo a Universidade de Osaka, e tem raízes econômicas.

No período de reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, o país multiplicou a plantação das árvores nativas sugi (Cryptomeria japonica, árvore símbolo do país) e cipreste hinoki (Chamaecyparis obtusa), duas das principais entre as 40 espécies capazes de provocar alergia no Japão.

Com o aparecimento de materiais mais baratos, porém, a demanda pela madeira dos pinheiros caiu e as árvores deixaram de ser abatidas.

ÁRVORES MADURAS

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O premiê japonês, Shinzo Abe

Ainda que a área de florestas não tenha crescido, a produção de pólen aumenta muito com a maturidade das árvores, o que agravou a dispersão do alérgeno, dando à febre do feno proporções de política pública.

Nos anos 1970, só 25% dos sugi tinham mais de 20 anos, mas essa porcentagem passou para 85% no ano 2000. Dentre as duas espécies de pinheiros, mais de 60% superam os 30 anos, quando a produção de pólen atinge o pico.

Universidades e hospitais divulgam listas de recomendações para evitar os sintomas e tratar a alergia instalada, e meios de comunicação divulgam boletins de concentração de pólen por região, semelhantes à previsão do tempo.

Dependendo da região do país, a estação da alergia começa em janeiro ou fevereiro, tem seu pico em março ou abril e decresce pelos próximos dois meses.

A febre do feno movimenta vários mercados, como o de remédios, óculos protetores, máscaras, filtros de ar-condicionado e telas para janelas, além de tratamentos médicos para dessensibilizar nariz e olhos.

DIFÍCIL DE ACABAR

Acabar com o problema, porém, como prometeu Koike, não parece fácil.

Órgãos públicos e de pesquisa têm conseguido desenvolver espécies que produzem menos pólen, mas a tecnologia não resolve o problema das árvores já maduras.

Na década passada, o governo de Tóquio incentivou a construção de edifícios de madeira, como forma de tentar acelerar o corte dos pinheiros emissores de pólen.

O plano, proposto em 2006, era cortar em dez anos mais de 1,8 milhão de pinheiros. Estimativas são de que menos de 2% das florestas, porém, tenham sido recicladas com as espécies mais inofensivas.

O governo federal também criou um Plano de Combate à Febre do Feno, com orçamento anual que supera o equivalente a R$ 5 bilhões.

TURISTAS

Como o sugi e o hinoki são árvores nativas do Japão, turistas em geral não foram expostos ao pólen dessas espécies. Como a sensibilização leva alguns meses para ocorrer, em geral a alergia só se manifesta em uma segunda estação.

Além de congestão nasal e coceira no nariz, vermelhidão e ardor nos olhos, a alergia pode provocar inflamação na garganta, dor de cabeça, distúrbios do sono e dificuldade de concentração.


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