Folha de S. Paulo


Republicanos vão buscar colar imagem de democratas a líder impopular

O líder do mais importante PAC (Comitê de Ação Política) republicano na Câmara dos Deputados disse na terça-feira (28) que o PAC vai apostar tudo em uma tática testada e comprovada para eleger republicanos em 2018: vincular os candidatos democratas a Nancy Pelosi, a líder da minoria democrata na Câmara.

O PAC Congressional Leadership Fundo (CLF, ou Fundo de Liderança Congressional), que tem vínculos com o presidente da Câmara, o deputado republicano Paul Ryan, do Wisconsin, pretende gastar US$100 milhões antes das eleições parlamentares de 2018, e seu diretor executivo, Corry Bliss, disse em memorando divulgado na terça que não vê razão para abandonar uma estratégia que vem rendendo frutos há seis anos –mais recentemente no 6º Distrito Congressional da Geórgia, onde anúncios do CLF que mostravam Pelosi e seu distrito de San Francisco ajudaram a definir e derrotar o candidato democrata Jon Ossoff na eleição especial realizada na Califórnia este mês.

Jim Young /Reuters
A líder da minoria democrata na Câmara dos EUA, Nancy Pelosi
A líder da minoria democrata na Câmara dos EUA, Nancy Pelosi

"No ciclo de 2018, o CLF vai desembolsar milhões de dólares para chamar a atenção para a pauta tóxica de Nancy Pelosi e para lembrar aos eleitores de todo o país que os candidatos democratas não passam de câmaras de eco das políticas liberais ultrapassadas de Pelosi", disse Bliss no memorando.

Essa decisão foi confirmada não apenas pelo resultado na Geórgia, onde o CLF financiou materiais enviados pelo correio e spots na televisão no valor de US$ 7 milhões mostrando bondes e hippies, mas também por várias pesquisas internas que o CLF compartilhou pela primeira vez no memorando. Em 11 distritos identificados pelo Partido Democrata como alvos em 2018, a popularidade de Pelosi está pelo menos dez pontos negativa. Em um dos distritos -o segundo de Nebraska, onde o democrata Brad Ashford quer recuperar a cadeira que perdeu no ano passado para o republicano Don Bacon–, 60% dos entrevistados tinham uma impressão desfavorável de Pelosi.

Bliss escreveu: "Os resultados apontam para questões chaves diferentes entre um distrito e outro, mas identificamos um denominador comum a todos: Nancy Pelosi".

O PAC não divulgou detalhes sobre datas específicas ou a metodologia empregada em sua pesquisa.

Não é incomum que um líder congressional seja altamente impopular. O que não é comum é o caráter implacável e eficaz dos ataques do Partido Republicano a Pelosi.

O memorando veio à tona no momento em que os deputados democratas voltam a se reunir em Washington depois de uma semana trocando críticas pela derrota na Geórgia e após uma nova rodada de agitação entre um grupinho de democratas mais jovens que estão ansiosos por ver Pelosi se afastar. A decisão declarada do CLF de transmitir uma mensagem anti-Pelosi em distritos disputados cruciais pode ajudar a alimentar as críticas internas dos democratas, mesmo depois de, na quinta-feira, Pelosi ter tomado medidas decisivas para calar seus críticos internos.

"Cada ataque provoca uma reação maciça de meus membros, de apoiadores de fora e de todo o país, algo que é um incentivo grande para mim", disse Pelosi a jornalistas, chamando a atenção para sua própria habilidade organizacional e de levantamento de fundos e acusando seus críticos de agir movidos por "ambição pessoal".

Pelosi também destacou algo que é confirmado por pesquisas nacionais: que ela não é mais impopular que Paul Ryan. "Os números dele não são melhores que os meus. A diferença é que nós (democratas) não fazemos política pela destruição pessoal."

O que vem ao caso, porém, é que os republicanos acreditam que Pelosi é especialmente impopular em distritos que os democratas precisam conquistar para poderem recuperar a maioria na Câmara.

"Os eleitores associam Nancy Pelosi com impostos mais altos, governo maior, as falhas da Obamacare e o pacto perigoso com o Irã", disse Bliss no memorando. "As eleições especiais recentes continuam a mostrar que, quando os eleitores tomam conhecimento dos vínculos de um candidato com Nancy Pelosi e sua agenda, eles o rejeitam."

Tradução de Clara Allain


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