Folha de S. Paulo


EUA não vão deportar imigrantes em massa, afirma secretário de Trump

Carlos Barria/Reuters
O secretário de Segurança Doméstica dos EUA, John Kelly (dir.), em entrevista no México, ao lado do secretário de Estado, Rex Tillerson
John Kelly (dir.), em entrevista no México, ao lado do secretário de Estado, Rex Tillerson

O secretário de Segurança Doméstica dos Estados Unidos, John Kelly, afirmou nesta quinta-feira (23) que não haverá deportação em massa de imigrantes no país.

A declaração foi dada durante visita ao México, a primeira após a posse de Donald Trump, onde Kelly se reuniu com o ministro de Relações Exteriores do país vizinho, Luis Videgaray.

O encontro aconteceu em momento de tensão entre os dois países por causa do aperto do cerco a imigrantes ilegais anunciado pelos EUA.

Em evento na Casa Branca nesta quinta, Trump reconheceu ter enviado Kelly e o secretário de Estado, Rex Tillerson, em uma "viagem difícil, pois precisamos ser tratados de maneira justa pelo México."

No mês passado, o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, cancelou um encontro que teria com Trump. Eles discutiriam a construção do muro na fronteira entre os dois países —o México se recusa a pagar por ele.

Nesta quinta, Kelly reforçou também que o Exército norte-americano não participará das ações de deportação. E que elas serão feitas de maneira "legal e respeitando os direitos humanos." Segundo ele, o foco das medidas do governo são pessoas que cometeram crimes no país.

Horas antes, no entanto, Trump sugeriu um rumo diferente. Em encontro com executivos em Washington, o presidente chamou o esforço de deportações de "operação militar".

"Estamos expulsando membros de gangue, chefes do tráfico de drogas, estamos expulsando caras realmente ruins deste país —e em um ritmo nunca visto antes."

O tom de Trump destoou da mensagem que Kelly e Tillerson tentaram passar durante o encontro, em que representantes de ambos os países se esforçaram para demonstrar extrema cordialidade.

Tillerson começou seu discurso dizendo que sempre viveu no Texas, perto do México, e que tem muito carinho pelos mexicanos. Videgaray também afirmou que era uma honra receber os norte-americanos e que o "trabalho entre os dois países será demorado, mas que hoje foram dados passos na direção correta".

"Em um momento em que nossos governos têm diferenças públicas e notórias, o melhor jeito de resolver isso é pelo diálogo", disse Videgaray.

Durante a reunião, o chanceler mexicano expressou sua preocupação com "os direitos dos mexicanos que vivem nos Estados Unidos".

"Nós ouvimos com atenção e com respeito suas preocupações", afirmou Tillerson à imprensa. E completou que "dois países fortes e soberanos podem ter diferenças de tempos em tempos". Nem ele nem Videgaray mencionaram a construção do muro.

"MOMENTO COMPLEXO"

Para o mexicano, no entanto, a relação entre os dois países está em "um momento complexo". O governo Donald Trump anunciou na terça (22) novas regras de deportação, que atingem a comunidade mexicana, uma das maiores dos Estados Unidos.

A prioridade agora passa a ser estrangeiros ilegais que cometeram qualquer tipo de crime e não apenas os considerados mais graves, como acontecia até então. A intenção também é a de acelerar as deportações, pulando processos legais em vigência atualmente.

O México também demonstrou preocupação com o plano do governo Trump de deixar imigrantes latinos detidos em centros no país enquanto aguardam audiências. Antes do encontro com os americanos, o próprio Videgaray havia dito que seu país não aceitaria essa política.

Nesta quinta-feira, ele afirmou que conversou com seus pares americanos sobre a "impossibilidade jurídica de um governo tomar decisões que afetam outro, de maneira unilateral".

Kelly reforçou em sua declaração que as deportações nos EUA serão feitas sempre em cooperação com o governo mexicano.

Antes de embarcarem de volta a Washington, Tillerson e Kelly se encontraram a portas fechadas com o presidente mexicano.

De acordo com o gabinete de Peña Nieto, ele afirmou aos visitantes que as prioridades do México são "a proteção dos mexicanos nos EUA e o respeito por seus direitos". O governo norte-americano não divulgou detalhes sobre o encontro com o mandatário.


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