Enquanto governos populistas de esquerda perdem espaço na América Latina, movimentos populistas de extrema direita crescem nos Estados Unidos e na Europa.
Do lado de cá do planeta, saíram recentemente do poder os governos de Cristina Kirchner, na Argentina, e o de Dilma Rousseff, no Brasil.
Na Venezuela, o chavismo atravessa sua crise mais profunda, com o crescimento das pressões pela destituição de Nicolás Maduro. Na Bolívia, Evo Morales perdeu há alguns meses em plebiscito a possibilidade de concorrer a um terceiro mandato.
Com suas diferenças, líderes latinoamericanos promoveram nas últimas décadas políticas frequentemente descritas como populistas, reproduzindo um discurso de defesa do povo frente aos interesses das elites econômicas e apostando na forte participação do Estado na economia visando à redução de desigualdades sociais.
Se a América Latina assiste ao declínio desses governantes, os EUA e a Europa veem ganhar espaço líderes populistas que desafiam o "establishment" político e financeiro internacional.
Esses políticos populistas do hemisfério norte também dizem proteger uma maioria populacional "esquecida" pelo governo e defendem políticas econômicas protecionistas.
Mas as comparações param por aí. Diferentemente da retórica de esquerda dos populistas latinoamericanos, os principais representantes da onda populista no mundo desenvolvido ostentam discurso nacionalista e conservador.
Suas principais pautas são o fechamento de fronteiras e o desmonte de acordos comerciais internacionais. Além disso, representantes da direita nacionalista se opõem à incorporação de imigrantes, por vezes resvalando na xenofobia, e atacam políticas favoráveis a minorias, como mulheres e LGBTs.
Impulsionados pela vitória eleitoral de Donald Trump nos EUA, os novos populistas querem chegar ao poder em algumas das principais democracias do mundo.
Na França, a líder ultranacionalista Marine Le Pen aparece nas pesquisas de intenção de voto como favorita para disputar o segundo turno nas eleições presidenciais de abril e maio. Seu partido Frente Nacional ganhou a maior parte das cadeiras do país nas eleições de 2014 para o Parlamento europeu.
François Nascimbeni/AFP | ||
A francesa Marine Le Pen em ato político no nordeste da França, em setembro deste ano |
PÓS-BREXIT
No Reino Unido, o antes ridicularizado Nigel Farage, líder do Ukip (Partido da Independência, na sigla em inglês), viu crescer sua influência após a aprovação em plebiscito do "brexit", a saída da União Europeia. Seu partido é a maior força britânica no Parlamento Europeu e teve 12,6% dos votos nas últimas eleições gerais.
Na Áustria, Norbert Hofer, do Partido da Liberdade, pode se tornar o primeiro governante de extrema direita eleito na Europa desde a queda do nazismo, em 1945, caso vença as eleições de 4 de dezembro. Na Alemanha, Frauke Petry, da Alternativa para a Alemanha, desponta na defesa da expulsão de imigrantes e no questionamento da interferência humana sobre o aquecimento global.
Movimentos nacionalistas e anti-imigração também ganham terreno em países de tradição multicultural, como Holanda, Dinamarca e Suécia. No Leste Europeu, líderes católicos ultraconservadores governam a Polônia e a Hungria.
Em artigo da Universidade Harvard, os pesquisadores americanos Ronald F. Inglehart e Pippa Norris definem esse novo populismo como "uma filosofia que enfatiza a fé na sabedoria e na virtude de pessoas comuns (a maioria silenciosa) contra o establishment 'corrupto'".
Os autores argumentam que a ascensão do populismo contemporâneo pode gerar choques culturais e geracionais, além de chacoalhar sistemas políticos consolidados.