Folha de S. Paulo


Equilíbrio em debate não estanca a sangria da candidatura de Trump

Donald Trump pode ter evitado um naufrágio com o desempenho acima do esperado no segundo debate presidencial do último domingo (9), mas sua candidatura continua a afundar.

Depois de perder o apoio de dezenas de políticos republicanos, dizendo-se chocados com a divulgação de um vídeo de 2005 em que o bilionário faz comentários obscenos sobre mulheres, nesta segunda (10) Trump sofreu mais um duro golpe, com a decisão do principal líder do partido, Paul Ryan, de também abandonar o barco.

Presidente da Câmara dos Deputados, Ryan disse a parlamentares republicanos que não aparecerá mais ao lado de Trump na campanha e que sua prioridade é salvar a maioria do partido no Congresso nas eleições legislativas, disputadas com a votação para presidente, em 8 de novembro.

Jim Young/Reuters
Republican U.S. presidential nominee Donald Trump speaks during the second U.S. presidential town hall debate between Trump and Democratic U.S. presidential nominee Hillary Clinton at Washington University in St. Louis, Missouri, U.S., October 9, 2016. REUTERS/Jim Young ORG XMIT: STL219
O candidato republicano Donald Trump fala durante debate com a democrata Hillary Clinton

A decisão foi interpretada como um reconhecimento implícito da derrota republicana na corrida presidencial. Ryan afirmou aos legisladores que seu foco é evitar que a candidata democrata, Hillary Clinton, assuma a Presidência em janeiro com maioria no Congresso.

A impressão de que a candidatura de Trump entrou em queda livre após o mais recente escândalo foi reforçada por uma nova pesquisa da NBC e do "Wall Street Journal", em que Hillary aparece 14 pontos percentuais na frente, a maior vantagem até agora.

A sondagem, com 500 pessoas, foi feita após a divulgação do vídeo, mas antes do debate. Na média de pesquisas nacionais do site "RealClearPolitics", Hillary está 5,8 pontos à frente de Trump, depois de registrar empate técnico há apenas duas semanas.

Pressionado a sair da disputa em meio à revolta crescente em seu partido, o bilionário disse que há "chance zero" de desistir e partiu para o ataque contra o líder republicano. "Paul Ryan deveria passar mais tempo no equilíbrio do orçamento, em empregos e na imigração ilegal e não perder tempo brigando com o candidato republicano", rebateu numa rede social.

Mas a perspectiva de entregar a Casa Branca de bandeja a Hillary também gerou indignação na linha-dura do partido opositor, deixando mais claro o racha com que os republicanos entram na reta final da campanha.

O deputado Dana Rohrabacher chamou de "covardes" os correligionários que se afastaram de Trump. Diante do rebuliço causado por seu anúncio, Ryan afirmou mais tarde que não havia retirado seu endosso a Trump, apenas estava defendendo os interesses do partido.

Ao longo da campanha, Ryan não escondeu sua relutância em apoiar o bilionário, mas acabou cedendo depois que Trump ganhou com sobras a disputa no partido. Em sua conversa com os legisladores, ele disse que eles deveriam "fazer tudo o que puderem pelo bem de seus distritos", dando-lhes sinal verde para se afastar de Trump, se necessário para serem eleitos.

Hoje os republicanos controlam ambas as casas do Congresso —o Senado com uma maioria de 54 a 44, e a Câmara por 247 a 188. Analistas estimam que a hegemonia está sob risco sobretudo no Senado, responsável por votações importantes como a aprovação dos juízes do Supremo.

Irritado com a sangria de apoio republicano à sua candidatura, Trump ameaçou retaliar dissidentes, a quem chamou de "hipócritas". Animada com seu desempenho no segundo debate, após uma semana de inferno astral, a campanha do empresário passou o dia seguinte enviando mensagens a seus seguidores encorajando-os a mobilizar-se contra os ataques "da mídia, establishment e políticos profissionais".


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