Folha de S. Paulo


Santos se dispôs a mudar acordo de paz com as Farc, diz Uribe

O primeiro encontro em cinco anos entre o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e seu predecessor, Álvaro Uribe, terminou com o segundo elogiando a disposição de Santos de modificar o acordo assinado com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e rechaçado no plebiscito de domingo.

Embora a reunião, realizada nesta quarta (5), na Casa de Nariño (sede do governo), não tenha trazido avanços concretos, os dois políticos demonstraram otimismo após o encontro e afirmaram que comissões de ambos os lados começarão a trabalhar em possíveis mudanças no acordo já nesta quinta-feira (6).

Xinhua/ COLPRENSA
Juan Manuel Santos (à direita) cumprimenta seu antecessor, Álvaro Uribe, em encontro nesta quarta
Juan Manuel Santos (à direita) cumprimenta seu antecessor, Álvaro Uribe, em encontro nesta quarta

Principal nome de oposição ao tratado de paz, Uribe afirmou depois da reunião ter apresentado ao presidente suas preocupações com alguns termos do acordo, como a participação política dos ex-guerrilheiros e as punições alternativas –pelo acordo, não haveria prisão, mas "liberdade restringida".

"Manifestamos ajustes e proposições iniciais que deverão ser introduzidas nos textos de Havana [capital de Cuba, onde ocorreram as negociações] para buscar um novo acordo de paz que inclua todos os colombianos. O presidente expressou sua vontade de atingi-lo.

Santos, por sua vez, afirmou que a paz está muito próxima e pediu celeridade nesse processo.

"Meu propósito é escutar a todos, atender na medida do possível suas observações e propostas de ajuste para encontrar um caminho que nos permita não só atingir um acordo de paz com as Farc como também fortalecê-lo".

Sobre o cessar-fogo, mantido a princípio até o dia 31 de outubro, Santos afirmou que, como chefe de Estado, poderá prorroga o prazo para "preservar o principal avanço obtido com as negociações: o fim da violência".

Antes do encontro com Uribe, Santos reuniu-se com o ex-presidente Andrés Pastrana, também opositor do acordo de paz, para escutar as suas críticas.

LIMBO

O governo colombiano e as Farc assinaram no dia 26 de setembro um acordo de paz negociado em Havana durante quatro anos.

A guerra no país, o mais antigo conflito na América Latina, já dura 52 anos e deixou cerca de 250 mil mortos e 6,9 milhões de deslocados.

No plebiscito realizado no domingo (2), entretanto, o texto foi rejeitado por pequena margem (50,2% a 49,8%).

A vitória do "não" colocou as Farc num limbo jurídico e logístico: a guerrilha colombiana não deixou de ser uma organização criminosa, porém tampouco seus membros estão sendo julgados, nem foram anistiados.

De acordo com o texto assinado por ambas as partes em Cartagena, na costa colombiana, os crimes cometidos antes desse período seriam julgados pela Justiça transicional, caso o acordo tivesse sido aprovado no plebiscito, mas os cometidos depois dessa data já não teriam esse benefício.

Ou seja, se os guerrilheiros, seja seguindo lideranças, seja por conta própria, seguirem cometendo delitos estarão cometendo crimes passíveis de serem levados à Justiça comum.

Estima-se que 40% do narcotráfico colombiano esteja sob controle da guerrilha. Se o acordo tivesse sido aprovado, essa atividade seria abandonada e as Farc iniciariam um programa de substituição de cultivos financiado pelo governo.

Além disso, sem o "sim" do plebiscito, as Farc não iniciaram nem a concentração nas "zonas de segurança" nem a entrega das armas, que seriam monitoradas pela ONU.


Endereço da página:

Links no texto: