Folha de S. Paulo


Ex-prisioneiro de Guantánamo deixa estado de coma no Uruguai

O sírio Jihad Diyab, ex-prisioneiro de Guantánamo que deixou o Uruguai rumo à Venezuela em julho, deixou o estado de coma superficial nesta quinta-feira (15), mas ainda apresenta um quadro de saúde muito frágil, segundo a equipe médica que o acompanha.

Diyab está em greve de fome há mais de um mês e não ingeria líquidos havia 12 dias quando teve um desmaio nesta quarta e permaneceu inconsciente.

Dante Fernandez - 9.set.2016/AFP
Em greve de fome, Jihad Diyab dorme em um colchão no chão de sua casa em Montevidéu
Em greve de fome, Jihad Diyab dorme em um colchão no chão de sua casa em Montevidéu

Ao despertar, na noite de quarta, o sírio teria retirado o soro, segundo o grupo "Vigília por Jihad Diyab", que tem acompanhado Diyab desde sua volta ao Uruguai e divulgado notícias sobre ele nas redes sociais.

De acordo com a médica Julia Galzerano, o soro foi administrado na quarta porque o ex-prisioneiro estava extremamente desidratado.

O grupo disse ainda na nota divulgada que Diyab, 45, sente dores, mas está consciente.

Com a greve de fome, o sírio quer pressionar o Uruguai a enviá-lo à Turquia ou a outro país para se reencontrar com a mulher e as três filhas.

Foi esse o motivo que o levou, em julho, a Caracas, onde esperava receber apoio de um governo crítico aos EUA.

A pressão já estaria surtindo efeito. Segundo José Luis Cancela, vice-chanceler uruguaio, o ministro Rodolfo Nin Novoa estava nesta quarta nos EUA para "obter a maior cooperação possível das autoridades americanas" para transferir o sírio a outro país.

A mulher de Diyab, refugiada em Ancara com as três filhas do casal, não quer ir para o Uruguai.

A saúde de Diyab está mais comprometida porque ele já fizera uma longa greve de fome enquanto estava em Guantánamo. Na prisão, chegou a ser submetido a alimentação forçada com sonda, o que fez com que seus advogados entrassem com um processo contra o governo dos EUA.

O sírio caminha até hoje com a ajuda de muletas e tem problema nos rins.

VENEZUELA

No fim de junho, o governo uruguaio revelou que não sabia onde estava Diyab e que ele poderia ter cruzado a fronteira com o Brasil. Em 26 de julho, ele bateu à porta do consulado uruguaio em Caracas, após cruzar o continente de ônibus, passando pelo Brasil.

Como todos os outros ex-prisioneiros de Guantánamo, Diyab tem status de refugiado no Uruguai e não é impedido de deixar o país. Apesar de haver uma discussão sobre se o sírio ainda poderia retornar ao país como refugiado, o governo uruguaio negou que sua condição tenha mudado.

No consulado em Caracas, ele pediu para ser mandado para a Turquia, mas não foi atendido. No mesmo dia, o ex-prisioneiro deixou a representação diplomática e foi detido por agentes venezuelanos.

Diyab foi preso em 2002, no Paquistão, suspeito de ligação com a rede terrorista Al Qaeda. Ficou 12 anos detido em Guantánamo, sem nenhuma acusação formal, até ter sua transferência liberada.

Com agências de notícias


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