Folha de S. Paulo


Reino Unido começa a detalhar plano de saída da União Europeia

Markus Schreiber/Associated Press
German Chancellor Angela Merkel, left, and British Prime Minister Theresa May shake hands after a news conference during a meeting at the chancellery in Berlin Wednesday, July 20, 2016, on May's first foreign trip after being named British Prime Minister. (AP Photo/Markus Schreiber) ORG XMIT: MSC129
A premiê britânica, Theresa May (à direita), ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel, em Berlim

Dois meses após o Reino Unido votar por sua saída da União Europeia, conhecida como "brexit", políticos britânicos esboçaram na segunda-feira (5) alguns dos contornos desse cenário.

A premiê Theresa May disse que o Reino Unido manterá "algum controle" na migração de cidadãos europeus, o que pode significar que uma eventual restrição seria apenas parcial.

May afirmou ainda que não adotará o sistema de migração baseado em pontos, que classifica os pedidos de entrada a partir de critérios como educação.

O sistema de pontos é uma proposta popular entre os políticos que defendem o "brexit", para quem a migração é um dos temas centrais.

Analistas interpretaram as declarações de May como um sinal de que cidadãos europeus serão favorecidos na saída britânica.

As posições dela irritaram políticos como Nigel Farage, ex-líder do separatista Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), para quem seria "inaceitável" dar prioridade aos cidadãos europeus.

May disse, ainda, que se reunirá com seu gabinete para discutir acordos comerciais com outros países.

Ela citou Índia, México, Coreia do Sul, Cingapura e Austrália como nações interessadas em remover barreiras comerciais. O jornal britânico "Guardian" incluiu a China entre eles, a partir de uma fonte no governo. O Brasil não estava na lista.

Respondendo aos pedidos de um segundo referendo para reverter a decisão de sair do bloco, a premiê afirmou que não há chance de voltar atrás. "O Reino Unido deixará a União Europeia."

CONSENSO

Como anunciado na véspera, David Davis, ministro britânico responsável pelo "brexit", apresentou ao Parlamento outros detalhes do processo de saída do bloco.

Ele afirmou que o Reino Unido deixará a União Europeia, mas não dará as costas ao continente. A saída será o resultado de um "consenso nacional", e a cooperação com o bloco em assuntos de segurança será mantida.

"Haverá novas liberdades, novas oportunidades, novos horizontes", disse o ministro, que informou que sua pasta tem 180 funcionários em Londres e 120 em Bruxelas.

Britânicos votaram em 23 de junho para deixar o bloco econômico europeu. Desde então, ainda não se apresentaram propostas claras de como será a separação.
Imagina-se que o artigo 50, que dá início à separação, só será ativado em 2017. A partir dessa data, haverá um prazo de dois anos para a conclusão do "brexit".

Davis afirmou ao Parlamento que o artigo será ativado assim que possível. "Prefiro estar um mês atrasado e fazer direito do que um mês adiantado e errar."

Uma pesquisa divulgada pela rede BBC mostrou que 62% dos britânicos estão otimistas com o futuro do Reino Unido após o "brexit". Mas 46% deles acreditam que a reputação britânica foi prejudicada por essa decisão.

A ansiedade em torno do 'brexit' não é apenas britânica. A comunidade internacional aguarda, atenta, as decisões sobre o evento.

O governo do Japão publicou, durante o final de semana, um relatório afirmando que a saída britânica pode levar instituições financeiras e empresas japonesas a abandonar o Reino Unido.


Endereço da página:

Links no texto: