Folha de S. Paulo


Hillary faz discurso sobre economia e promete defender a classe média

Com o desafio de convencer a classe média frustrada com os rumos do país sob comando de Barack Obama de que ela sente suas dores, Hillary Clinton apresentou sua agenda econômica na quinta (11), em Warren, Michigan.

Para tanto, a presidenciável democrata evocou o passado operário de sua família, prometeu criar mais de 10 milhões de empregos e disse que a vitória do rival republicano, Donald Trump, drenaria do país 3,4 milhões de vagas —conta de um relatório da agência Moody's considerada imprecisa por analistas.

Steve Pope/Getty Images/AFP
A candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, em campanha em Iowa
A candidata democrata à Presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, em campanha em Iowa

A locação foi estratégica. Michigan integra o "cinturão da ferrugem" nos EUA, em derrocada industrial. Três dias antes, Trump apresentara seu plano econômico no mesmo Estado, em Detroit.

E Hillary tem um nódulo eleitoral na região: em março, disse na vizinha Virgínia Ocidental que acabaria com os negócios de carvão mineral, base da economia local.

No contexto, defendia ajudar trabalhadores deslocados num mundo com mais demanda por energia limpa. Ficou a pecha de candidata que advoga por suas demissões.

Nesta quinta, a democrata usou a mesma munição de Trump e o acusou de proteger os poderosos. Hillary alega que suas propostas dariam fôlego à classe média, e as do republicano significariam "trilhões de dólares a mais, com cortes de impostos, para milionários como ele".

Trump abrandará as regras para a indústria financeira, disse, e ela as fortalecerá "para que Wall Street nunca mais destrua Main Street" (uma abriga o mercado financeiro; outra, o americano comum).

LEGADO

Se cumprir a promessa, Hillary divergirá do marido, Bill Clinton, cuja presidência (1993-2001) foi marcada pela desregulamentação do mercado financeiro. A "Time" o listou, em 2009, entre "25 pessoas a culpar pela crise".

A democrata, que já definiu a Parceria Transpacífico (TPP, em inglês) como "padrão de excelência", voltou a marcar posição contra a aliança comercial entre EUA, Japão e outros dez países.

"Eu me oponho a ele agora, após a eleição e quando for presidente", disse ela, que quando senadora por Nova York (2001-09) votou a favor de seis acordos comerciais.

Assinado por Obama em 2015 e ainda sem aval do Congresso, a TPP é vista como repelente de votos por incentivar a fuga de empregos para outras nações —estudos divergem sobre esse efeito, e o presidente diz que o aumento das exportações beneficiariam a economia americana.

O senador Bernie Sanders, que disputou prévias partidárias com Hillary e ganhou em Michigan, chama o tratado de "desastroso". Trump, rompendo com a simpatia republicana pelo livre comércio, também se opõe à TPP.

No discurso, Hillary ressaltou diferenças entre seu plano tributário e o do adversário. Ela defende elevar impostos para os mais ricos e rever o financiamento estudantil para conter o endividamento dos recém-formados.

Trump propõe baixar os tributos para empresas e extinguir uma taxa sobre heranças acima de US$ 5,5 milhões por herdeiro (R$ 17,3 milhões).

Ela também o acusou de basear sua plataforma "no medo, não na força". "Medo de que não consigamos competir com o mundo e não tenhamos escolha a não ser se esconder atrás de muros."

Ilustrou o argumento com os medalhistas olímpicos do país: "Se o Time EUA fosse tão medroso quanto Trump, [o nadador] Michael Phelps e [a ginasta] Simone Biles ficariam encolhidos nos vestiários, temendo competir".


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