Folha de S. Paulo


Kerry entrega documentos americanos sobre a ditadura argentina a Macri

Presidência da Argentina/AFP Photo
Handout picture released by Argentina's presidency showing US Secretary of State John Kerry (L) holding a meeting with Argentine President Mauricio Macri at the Casa Rosada presidential palace in Buenos Aires, on August 4, 2016. US Secretary of State John Kerry was in Argentina on Thursday to talk trade with President Mauricio Macri before heading to the Olympics opening ceremony in Brazil. Macri has undertaken a series of business-friendly reforms since taking office in December after 12 years of left-leaning administrations whose relations with the United States were sometimes testy. / AFP PHOTO / PRESIDENCIA ARGENTINA / HO / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
À esq., o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em encontro com o presidente argentino Macri

Nesta quinta (4), em passagem por Buenos Aires, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, entregou ao presidente argentino, Mauricio Macri, documentos sobre a última ditadura no país (1976-1983). Até então, os papéis eram considerados secretos.

A medida havia sido prometida em março pelo presidente norte-americano, Barack Obama, que esteve na Argentina em uma visita que selou a reaproximação entre os países após 12 anos de gradual afastamento promovido pelo kirchnerismo (2003-2015).

Em 2002, os Estados Unidos já haviam desclassificados cerca de 4.000 documentos sigilosos. Essa nova leva, porém, inclui papéis militares e do serviço de inteligência. Kerry informou que, após a entrega da primeira leva, outros documentos serão liberados.

A visita ocorre antes de Kerry seguir para o Brasil, onde assistirá à abertura da Olimpíada.

A chanceler argentina, Susana Malcorra, durante entrevista junto a Kerry, disse estar preocupada com a possibilidade de a crise no Mercosul enfraquecer o bloco e ter uma projeção externa.

"Estamos em um momento muito crítico e pretendemos avançar em muitas frentes com o Mercosul, com [o acordo de livre comércio com] a União Europeia e com outros tratados. Acreditamos que isso [a crise] pode afetar o posicionamento do Mercosul."

O problema em torno da Presidência do bloco se acentuou na última semana, quando o Uruguai deu por encerrado seu período no comando, alegando não ver empecilhos jurídicos para que a Venezuela assumisse. O governo de Nicolás Maduro se autoproclamou presidente do Mercosul, mas não recebeu a chancela de Brasil, Argentina e Paraguai.

Questionado sobre a possibilidade de a Presidência do Mercosul ficar com Maduro, o secretário de Estado apenas afirmou que Malcorra era a mais indicada para falar do assunto. A chanceler repetiu que a posição argentina é de que a passagem da liderança precisa ocorrer em uma reunião oficial do Mercosul.

Kerry, por sua vez, discorreu sobre a situação da Venezuela, que passa por uma crise política, econômica e social. O americano disse estar bastante preocupado com o cenário no país e espera que o referendo que pode revogar o mandato de Maduro avance.

"Encorajamos a Venezuela a abraçar o referendo, não de uma forma lenta, empurrando para o próximo ano. Mas fazendo isso em sinal de respeito à Constituição e às necessidades da população do país."

A oposição venezuelana tem pressa para a realização do referendo, pois só haverá novas eleições caso o presidente seja destituído antes de 10 de janeiro de 2017. Caso contrário, o vice de Maduro assumirá. Nesta semana, a primeira etapa de coleta de assinaturas para a realização do referendo foi aceita.

Kerry ainda frisou que os EUA estão tentando dialogar com o governo de Maduro e comprometido com o "restabelecimento total da democracia" venezuelana.

REUNIÃO

A crise do Mercosul se arrasta há alguns meses porque Brasil, Argentina e Paraguai, ao considerarem que o governo de Maduro viola direitos humanos, opõem-se a uma Presidência do bloco comandada pela Venezuela.

Devido ao sistema de rotação, no qual a liderança muda a cada seis meses seguindo a ordem alfabética, a Presidência do Mercosul caberia à Venezuela .

A Argentina sugeriu que a liderança seja compartilhada pelos países até o fim deste ano, quando o presidente Macri assumiria, dando continuidade à rotação alfabética. Uma reunião de diplomatas discute essa possibilidade nesta quinta em Montevidéu.

O Presidente do Mercosul é o responsável por convocar e organizar as reuniões do grupo em seu território, além de definir a pauta dos encontros. O cargo, porém, é mais formal, pois as decisões tem de ser tomadas em consenso em reuniões de chanceleres. A falta de um presidente, porém, pode acabar tornando as negociações mais lentas.

ECONOMIA

O secretário de Estado reforçou o apoio americano ao governo e às políticas econômicas de Macri.

"Sabemos que há desafios econômicos [na Argentina], mas Macri tomou atitudes importantes e corajosas para criar empregos. Os EUA apoiam fortemente o esforço da Argentina para aprofundar sua integração na economia global."

Kerry acrescentou que conversou com empresários americanos que atuam em território argentino e que eles investirão no país. "[O aporte de recursos] não ocorrerá da noite para o dia, mas acontecerá pela determinação do governo [Macri]."


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