Folha de S. Paulo


Brasileira republicana tenta se eleger deputada estadual nos EUA

A primeira eleição que Emanuela Palmares disputou, para o grêmio da escola, foi um fiasco. "Defendi detector de fumaça nos banheiros e uniforme obrigatório. Perdi amargamente, claro."

Aos 33, ela é novamente candidata: desta vez, à Assembleia Legislativa do Estado de Connecticut (EUA). Foi-se o gosto por roupas pretas da juventude emo, ficou o posicionamento político que desafia o senso comum.

Milena Cerqueira/Divulgação
Emanuela Palmares, candidata brasileira a Assembleia Legislativa de Connecticut
Emanuela Palmares, candidata brasileira a Assembleia Legislativa de Connecticut

Emanuela é brasileira –logo, imigrante. E é republicana, o que, para parte do eleitorado, causa ruído tão forte quanto um gay pró-aborto no Partido Social Cristão do pastor Marco Feliciano.

A legenda, afinal, tem histórico de abraçar políticas migratórias duras, que poderiam dificultar a mudança de sua família, mineira, para os EUA, nos anos 1990. E o discurso vira hipérbole com o presidenciável Donald Trump, que promete um muro na fronteira com o México.

Quando a questionam sobre a credencial partidária, Emanuela sorri e responde: "Ninguém é perfeito".

Ela não gosta de Trump ("me corta o coração") e diz que prefere escrever "Xuxa ou Enéas" na cédula a votar no candidato de seu partido.

Mas o outro lado, diz, é pior. "Democratas resistem a entender minha posição sobre aborto, por exemplo."

Ela é contra, mesmo em casos de estupro. Aderiu à posição após Caio, seu "bebê Benetton" (alusão à publicidade da marca de roupas, com atores multirraciais –o menino tem sangue coreano, brasileiro e irlandês).

Uma médica sugeriu que abortasse o bebê. Ela se arrepia de pensar na hipótese.

Do que ela é a favor: menos impostos e um Estado mínimo (o do Brasil seria tão inchado que "parece usar anabolizantes"). Também apoia leis para garantir que igrejas possam se recusar a casar homossexuais, embora ressalte que endossa a união civil e, no colégio, seu melhor amigo "era um gay saltitante".

Para ela, um democrata que a recrimine por ser "latina com tendências conservadoras, como se isso fosse uma desgraça para a minha raça", é "tão preconceituoso quanto quem quer me deportar".

DO PÚLPITO AO PALANQUE

Na juventude, a batista Emanuela queria ser pastora.

Um amigo levou a fã de heavy metal à uma igreja que unia evangelização e rock pesado. "Me achei: pauleira e conservadora que nem eu."

O perfil da loira de cabelos escovados, com inglês de apresentadora de TV, agradou ao diretório republicano local, que a escolheu para concorrer à Assembleia.

Nos EUA, o voto é distrital. Connecticut, por exemplo, é dividido em 151 distritos. Cada um elege um deputado estadual, e as duas principais legendas, republicana e democrata, apontam cada uma um só candidato.

Danbury, a região de Emanuela, é um Frankenstein político, ou, como ela descreve, um "baby" nascido num "ménage" entre a progressista Nova York, o conservador Texas e o indeciso Ohio.

O governador do Estado é democrata, e há mais de 20 anos a cidade elege um deputado estadual da mesma filiação –Bob, seu rival.

Mas o prefeito de Danbury, padrinho político de Emanuela, é republicano e está no sétimo mandato.

Dos 85 mil habitantes, mais de dez mil são brasileiros, público cortejado por 16 igrejas evangélicas exportadas, da Assembleia de Deus à Universal. Danbury parece um puxadinho mineiro, com lojas como Banana Brazil e Padaminas, onde se acha café Pilão, brigadeiro e TV passando Rede Globo.

Emanuela conversa com a Folha na padaria, onde almoça salpicão, sobre o poder local de sua família. Eles têm um jornal trilíngue (português, espanhol e inglês) e organizam o Sonho Americano, baile que distribui bolsas de estudo para imigrantes.

"Ficava vendo americano achar que brasileiro só serve para limpar chão", afirma a mãe, que no início questionou conterrâneos que revendiam uma lata de leite condensado por US$ 7 (R$ 23).

Emanuela, conterrânea da presidente afastada ("muito infelizmente", diz), acompanha a crise política do Brasil.

Ao ver na TV cartazes com "Fora, Dilma" e as demandas das passeatas pró-impeachment, afirma ter reconhecido algo familiar: "O Brasil é um país republicano".


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