Folha de S. Paulo


Sumiço de ex-preso de Guantánamo no Uruguai atrai críticas a Obama

Legisladores norte-americanos criticaram duramente o governo do presidente Barack Obama, nesta quinta-feira (7), pelo desaparecimento de um ex-detento em Guantánamo, apelando pelo fim das transferências para fora da prisão, por medo de que antigos detentos venham a lançar ataques contra norte-americanos.

Eles manifestaram preocupação quanto a informações de que Jihad Diyab, um sírio que estava entre seis detentos transferidos ao Uruguai em dezembro de 2014, teria desaparecido e pode agora estar no Brasil.

Diyab, que, como a Folha revelou em 18 de junho, tentara cruzar a fronteira para o Brasil duas vezes em maio, desapareceu há pouco mais de um mês. O governo uruguaio diz ser provável que ele tenha entrado no Brasil, mas a Polícia Federal afirma não ter registro da movimentação.

Ines Guimarsens/AFP
Former Guantanamo prison inmate Syrian Jihad Ahmed Mujstafa Diyab (R) is seen drinking
O ex-detento de Guantánamo Jihad Ahmed Diyab (dir.) toma mate após chegada ao Uruguai, em 2014

Obama está trabalhando para fechar a prisão militar dos Estados Unidos na Baía de Guantánamo, na qual suspeitos de terrorismo estão detidos há 15 anos. Os ex-prisioneiros enviados a outros países foram soltos após mais de uma década, porém, porque não há acusação nem suspeita concreta contra eles.

Os legisladores republicanos se preocupam com a possibilidade de que a avidez do governo Obama por fechar a prisão antes que o presidente deixe o posto, em janeiro, esteja levando as autoridades a transferir detentos a países que não têm como garantir que eles não retornem ao campo de batalha, aderindo a grupos militantes que tomam os Estados Unidos e seus aliados por alvos.

"Estamos falando de detentos que têm toda intenção de matar famílias norte-americanas", disse o deputado federal republicano Joe Wilson, da Carolina do Sul, em uma audiência do Comitê de Assuntos Externos da Câmara. O governo chegou a considerar transferir os detentos de Guantánamo a uma penitenciária na Carolina do Sul.

O "New York Times" reportou que Diyab anunciou no mês passado que faria um retiro religioso que duraria até a semana que vem, e não estaria acessível por telefone ou e-mail.

De lá para cá, algumas autoridades uruguaias afirmaram ter perdido Diyab de vista e sugeriram que ele pode ter viajado ao Brasil, reportou o jornal.

"Muitos países não estão capacitados para essa tarefa", disse o deputado federal republicano Ed Royce, presidente do comitê. "Mas o governo enviou terroristas de Guantánamo a esses países mesmo assim."

Os membros republicanos e alguns membros democratas do comitê questionaram asperamente Lee Wolosky, o funcionário do Departamento de Estado encarregado do fechamento do centro de detenção de Guantánamo, e Paul Lewis, o funcionário encarregado da mesma missão no Departamento de Defesa.

O deputado federal Jeff Duncan, mais um republicano da Carolina do Sul, disse que Diyab, acusado de forjar passaportes para a Al-Qaeda, poderia representar ameaça à Olimpíada que começa em breve no Rio de Janeiro, se ele de fato estiver à solta no Brasil.

O líder da bancada democrata no comitê, Eliot Engel, que apoia o fechamento do centro de detenção em Cuba, disse que era importante manter a questão em perspectiva.

"Em circunstância alguma, em minha opinião, o governo Obama simplesmente abriria as portas e libertaria terroristas perigosos", disse Engel.

POUCOS RETORNAM

Lewis e Wolosky disseram que apenas 5% dos detentos transferidos desde que Obama assumiu a Presidência tiveram retorno confirmado ao combate. A porcentagem era mais alta entre os mais de 500 detentos libertados no governo do presidente George W. Bush.

No momento, há 79 detentos em Guantánamo, dos quais 29 elegíveis para transferência.

Wolosky reconheceu que Diyab vem se provando "difícil", desde o momento em que foi transferido ao Uruguai. De acordo com o "New York Times", amigos e correligionários de Diyab dizem que ele está orando e ressurgirá em breve.

Obama vem tentando cumprir sua promessa de fechar a prisão de Guantánamo, feita em 2009. Mas o Congresso aprovou leis que dificultam fazê-lo, principalmente ao proibir a transferência detentos a prisões nos Estados Unidos.

É improvável que os legisladores suspendam essas restrições, especialmente em um ano eleitoral. Eles propuseram restrições ainda mais severas em um projeto de lei de política da defesa para o ano fiscal de 2017, um dos motivos para que Obama tenha ameaçado vetá-lo.

Os oponentes da prisão de Guantánamo afirmam que reter prisioneiros por anos sem acusação ou julgamento contraria os valores fundamentais dos Estados Unidos e, por esses detentos serem muçulmanos, mantê-los ajuda no recrutamento de novos militantes islâmicos.

Donald Trump, virtual candidato republicano à Presidência em 2016, apelou por uma expansão de Guantánamo.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


Endereço da página:

Links no texto: