Folha de S. Paulo


Diplomata dos EUA vem ao Brasil debater Venezuela

A crise na Venezuela será um dos temas discutidos no Brasil por Mari Carmen Aponte, principal diplomata dos EUA para as Américas, que visitará o país na próxima semana. Será a primeira viagem de um representante do governo americano ao Brasil após a posse do presidente interino, Michel Temer.

Aponte, que assumiu o posto há três semanas, irá a São Paulo e a Brasília, onde se reunirá com o chanceler, José Serra, e outras autoridades do governo. Sua agenda inclui ainda encontros com representantes do setor privado e do mundo acadêmico. Antes do Brasil, passará dois dias no Uruguai.

Ronaldo Schemidt/AFP
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A visita, antes da conclusão do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, envolve riscos para a imagem dos EUA na região, diz o analista João Augusto de Castro Neves, da consultoria de risco Eurasia.

Para ele, o perigo é que se alimente a "narrativa do golpe", com um suposto apoio americano. O governo dos EUA tem afirmado que confia nas instituições brasileiras e rejeitou a tese de golpe.

OEA

Apesar da intenção do secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, de evocar já na próxima semana a Carta Democrática Interamericana para tentar aplacar a crise na Venezuela, a discussão do tema na entidade vai demorar pelo menos um mês.

A expectativa é que o tema só seja considerado pelos membros da OEA depois da Assembleia Geral da entidade, que será realizada entre 13 e 15 de junho na República Dominicana.

Isso praticamente afasta a possibilidade de que sejam discutidas ações concretas na OEA contra a Venezuela nos próximos dias.

Dada a gravidade da situação venezuelana, havia a expectativa de que isso pudesse ocorrer na próxima semana, após a apresentação de um relatório sobre a crise no país elaborado por Almagro, em que ele pretende evocar a Carta Democrática.

"Os tempos da diplomacia não são os mesmos da imprensa e do Twitter", disse à Folha o embaixador do Brasil na OEA, José Luiz Machado e Costa, numa referência à rede social usada por Almagro como plataforma de divulgação de suas posições.

As divisões sobre a crise na Venezuela entre os países da OEA também tornam mais provável que a discussão fique para depois da Assembleia, cuja agenda oficial, aliás, não inclui o tema.

Medidas com base na Carta, como gestões diplomáticas, requerem aprovação por maioria simples. Para a suspensão do país da OEA é necessário o aval de dois terços dos 34 membros, o que no momento é considerado improvável.

Diplomatas estimam que Caracas poderia contar com 18 votos para bloquear a iniciativa, incluindo países caribenhos e os quatro da Alba (Aliança Bolivariana).

Segundo o porta-voz de Almagro, Sérgio Jellinek, essa matemática não afetará a conduta do secretário-geral.


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