Folha de S. Paulo


Depois de 24 horas de ocupação, iraquianos liberam o Parlamento

Manifestantes deixaram a fortificada Zona Verde de Bagdá, neste domingo (1º), depois de ficarem acampados um dia na área da capital iraquiana que abriga o Parlamento, diversos ministérios e embaixadas estrangeiras.

A saída, porém, pode ser temporária, já que o grupo prometeu voltar a pressionar o governo, no fim da semana, pelas reformas desejadas.

As centenas de manifestantes que invadiram o Parlamento no sábado (30) são apoiadores do influente clérigo Muqtada al-Sadr. A invasão ocorreu após meses de protestos que cobram uma mudança no sistema político instituído após a queda de Saddam Hussein, em 2003.

No ano passado, a mobilização atingiu milhões, demandando melhores serviços e pressionando o primeiro-ministro Haider al-Abadi a apresentar um pacote de reformas.

Sem avanços nas mudanças, no entanto, apoiadores do clérigo Sadr dominaram o movimento pró-reformas.

Os manifestantes querem ver aprovada a proposta do governo de substituir quadros com ligações partidárias por uma equipe de técnicos, numa campanha anticorrupção.

Essa proposta, no entanto, encontra resistência de partidos políticos poderosos.

Os ocupantes da Zona Verde recuaram, no domingo (1º), por causa de uma peregrinação anual que atrai milhares de pessoas no país, segundo Sadiq al-Hashemi, representante do escritório do clérigo Sadr e um dos manifestantes na zona fortificada.

Os atos, no entanto, serão retomados após o evento religioso, disse o representante, o que também dará tempo para que o Legislativo tenha nova oportunidade de votar as reformas demandadas.

"Nós atingimos algo aqui. Conseguimos levar adiante a mensagem das ruas iraquianas", afirmou Al-Hashemi.

ATAQUES

Também neste domingo (1º), pelo menos 31 pessoas morreram e 52 ficaram feridas após dois carros-bomba explodirem na cidade de Samawah. Um dos veículos foi detonado próximo a prédios públicos e, minutos depois, o outro explodiu em uma estação aberta de ônibus.

No sábado, uma explosão reivindicada pelo Estado Islâmico, em um mercado de Bagdá, matou pelo menos 21 pessoas e feriu outras 42.

De acordo com as Nações Unidas, 741 iraquianos morreram durante o mês de abril devido à escalada da violência. Em março, um ataque suicida reivindicado pelo EI em um estádio cheio de crianças matou 29 pessoas.

"A crise política está tendo uma influência muito negativa na nossa guerra contra o Daesh [acrônimo em árabe para o EI]", disse o parlamentar Younadim Kanna. "Posso dizer que o Daesh está muito feliz com esses protestos em Bagdá", afirmou Kanna.

O escritório do clérigo Sadr na capital negou que as manifestações estejam colocando em risco a luta contra o Estado Islâmico. Afirmou, no entanto, que a decisão de deixar a Zona Verde foi tomada, em parte, por segurança.


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