Folha de S. Paulo


Donald Trump trava 'guerra dos sexos' com Hillary Clinton

Donald Trump instaurou uma guerra dos sexos com Hillary Clinton no momento em que os dois se fortalecem como prováveis candidatos na corrida para ser dono de casa —a Branca, no caso.

"Acho que a única carta que ela tem é ser mulher", disse terça (26), após vencer prévias republicanas em cinco de cinco Estados e a potencial adversária ganhar a rodada democrata em quatro.

Mary Schwalm - 23.abr.2016/Reuters
A pré-candidata democrata Hillary Clinton tira foto com mulheres durante comício em Rhode Island
A pré-candidata democrata Hillary Clinton tira foto com mulheres durante comício em Rhode Island

"Se Hillary Clinton fosse um homem, não teria 5% dos votos. E o mais lindo é que as mulheres não gostam dela."

A ex-secretária de Estado rebateu o argumento. "Se lutar por mais assistência médica, licença-maternidade e salários iguais é sacar a 'carta da mulher', estou dentro."

Na sequência, Trump louvou seu próprio desempenho com o eleitorado feminino ("grandes marcas!") e disse que seus ataques a Hillary eram "muito verdadeiros".

Na rodada de terça, 3 dos 5 Estados votantes permitiram pesquisas na saída das urnas. Segundo elas, Trump conquistou 50% (Maryland), 54% (Pensilvânia) e 55% (Connecticut) de apoio feminino, superando os concorrentes Ted Cruz e John Kasich.

Nada mal, mas vantagem de Hillary contra Bernie Sanders foi melhor: 68% das mulheres a escolheram em Maryland, 60% na Pensilvânia e 57% em Connecticut.

Desde outubro, a consultoria Morning faz pesquisas de intenção de voto para a eleição de novembro. Numa disputa entre os dois, a projeção hoje é de que ela venceria com 48%, contra 35% para ele e 17% de indecisos.

CANHÃO

Republicanos temem a rejeição feminina a Trump, que já chamou de "canhão" jornalistas, apresentadoras e políticas em seu caminho (como a recém-anunciada vice de Ted Cruz, Carly Fiorina).

Outro tabu: mulheres devem ser punidas se abortarem, disse o homem que, há 17 anos, defendeu autonomia feminina sobre o corpo. A sugestão pegou mal até entre o público conservador, e Trump recuou, pedindo criminalização só de médicos.

A tática de usar o gênero contra Hillary intriga especialistas, pois apela ao público já cativo do empresário: o homem branco conservador.

Segundo Trump, porém, é um engano chancelar as credenciais feministas de Hillary. Em janeiro, ele publicou um vídeo em uma rede social: enquanto a democrata diz que "direitos das mulheres são direitos humanos", uma montagem apresenta "Hillary e seus amigos".

São antigos cabos eleitorais envolvidos em escândalos sexuais, como o comediante Bill Cosby, o ex-deputado Anthony Weiner (que publicou no Twitter uma foto sua de cueca) e, por fim, seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, que sobreviveu a um impeachment após mentir sobre o caso com a estagiária Monica Lewisnky.

Para John Aldrich, professor da Universidade Duke, Trump pode achar que "já se prejudicou tanto com as eleitoras que não tem a perder". Por isso, antes de a campanha começar pra valer, tenta ver que ataques funcionam.

E Hillary tem um calcanhar de aquiles, apesar de seu bom desempenho com as mulheres mais velhas: as jovens. "Elas não apoiam Trump, mas os jovens tendem a ser menos dispostos a ir às urnas [o voto no país é facultativo]."

Se o tiroteio verbal de Trump lhe tiver serventia, diz Aldrich, será a de "incentivar as garotas" a não "esquecerem" de votar em novembro.


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