Folha de S. Paulo


Cunhados de Mauricio Macri fazem oposição a presidente argentino

A fenda (ou "grieta", como é chamada localmente) que divide a Argentina politicamente também passa pela família do presidente, Mauricio Macri -o mandatário tem dois cunhados como opositores.

Néstor Daniel Leonardo pediu em março para que Macri fosse levado à Justiça. Já Alejandro Awada faz questão de aparecer em atos públicos de apoio ao kirchnerismo.

O parapsicólogo Leonardo, de 51 anos, é viúvo de Sandra Macri –irmã do presidente que morreu em 2014 de câncer- e é uma das vítimas de um caso de escutas ilegais.

À Folha, ele afirmou que Macri é "muito agressivo e soberbo" e que, por isso, "não poderia ser presidente".

Montagem
Entrevista a Alejandro Awada. Fotos Emmanuel Fernandez ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***10 03 2016 - Audiencia sobre sobreseimiento de Mauricio Macri en la causa de las escuchas ilegales. Se encuentran presente los jueces de la Sala I Jorge Ballestero y Eduardo Freiler, y Nestor Leonardo, ex cuñado del actual Presidente de la Nacion Argentina, en Tribunales Federales de Retiro, en Ciudad Autonoma de Buenos Aires, Argentina. FOTO PEDRO LAZARO FERNANDEZ. - FTP CLARIN - 160310ComodoroPy_PLF9043.JPG - Z FTP Invitado - INVITADO ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Alejandro Awada (à esq.) e Néstor Daniel Leonardo, cunhados do presidente argentino Mauricio Macri

Em meados de 2008, quando sua mulher já estava doente, Leonardo teve seus telefones grampeados. As escutas foram colocadas por um funcionário da Polícia Metropolitana, criada por Macri quando prefeito de Buenos Aires.

Segundo o advogado de Leonardo, Luis Conde, Macri se preocupava com a possibilidade de seu cunhado tornar-se herdeiro da família.

O promotor responsável pelo caso, Jorge Di Lello, impulsionou a investigação nos últimos anos, mas, em dezembro de 2015, poucos dias antes da posse do presidente, afirmou que não havia provas suficientes que indicassem o envolvimento de Macri no caso. O advogado de Leonardo recorreu em março. "Tenho muita esperança de que haja um julgamento", disse à Folha.

No Brasil em dezembro, Macri descreveu o caso como "velho" e afirmou que não se sustentava. "A decisão do promotor fará com que o juiz a encerre", disse à época.

A relação entre o mandatário e seu cunhado foi distante durante os 12 anos da relação com Sandra. "Estivemos na mesma mesa algumas vezes", conta o parapsicólogo.

O mandatário foi ao casamento do casal em 2004, mas, segundo uma revista social da época, foi o único dos irmãos da noiva que deixou a festa antes da valsa.

NOS PALCOS

O outro parente-problema de Macri vem do lado da família de Juliana Awada, a elegante primeira-dama.

Alejandro, 54, ganhou os microfones por ser um dos atores mais celebrados no ano passado pela minissérie "História de um Clã". Ele aproveitou os holofotes para declarar publicamente, durante a campanha presidencial, seu voto em Daniel Scioli, o candidato de Cristina Kirchner.

À imprensa local, ele afirmou que havia alguns presidenciáveis que o representavam melhor que Scioli, mas que, "se o movimento [kirchnerista] diz 'vamos com Scioli', também vou".

Para o irmão de Juliana, Macri representa "o que faz muito dano à Argentina, que são os grupos concentradores de poder e a gestão política a serviço dos interesses pessoais e particulares de certos setores". Poucos dias antes da posse de Macri, Alejandro afirmou que não tocaria mais no assunto em respeito à irmã.

A decisão, porém, não o impediu de gravar um vídeo convocando os argentinos para participarem de um ato contra Macri, em fevereiro.

Para compensar os desafetos, o presidente conta com Daniel Awada, outro irmão da primeira-dama, dono da marca de roupas infantis Cheeky.

O empresário foi um dos argentinos que mais doaram para a campanha de Macri. Segundo as declarações, foram 2,6 milhões de pesos (cerca de R$ 650 mil) –mais até do que os 2 milhões de pesos colocados pelo próprio presidente.


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