Folha de S. Paulo


Contagem de delegados partidários é centro de disputa à Casa Branca

Carlo Allegri/Reuters
O pré-candidato republicano à Presidência dos EUA Donald Trump discursa em Rome, Nova York
O pré-candidato republicano à Presidência dos EUA Donald Trump discursa em Rome, Nova York

Queridinho da cúpula republicana, o presidente da Câmara, Paul Ryan, avisou: "Não contem comigo".

O nome do deputado circulava como "plano B" para disputar a Presidência dos EUA, caso nenhum pré-candidato consiga angariar, nas prévias realizadas desde janeiro, o apoio da maioria dos delegados (1.237 de 2.472) na convenção do partido, em julho.

Ryan não se inscreveu para o cargo, mas poderia encabeçar a chapa. Por quê? Porque o sistema permite inserir alguém novo no jogo, caso os delegados da legenda não se decidam sobre Donald Trump, Ted Cruz ou John Kasich, os "últimos em pé" na batalha do partido.

No entanto, para que isso ocorra, o partido precisa modificar seu estatuto sobre a convenção, que será realizada em julho, por meio de um processo complexo.

"Se alguém quer concorrer, deveria ao menos ter disputado [as prévias]", disse Ryan nesta terça (12).

O problema é que a malha eleitoral do país é afeita a pontos de interrogação, e suas peculiaridades têm levado pré-candidatos a investir em discursos vitimistas para atrair a simpatia popular.

Arrecadação dos pré-candidatos - Em US$ milhões

MATEMÁTICA COMPLEXA

Alvo de forças anti-Trump, o líder da disputa republicana acusa o establishment da legenda de querer "roubar" sua candidatura, e Cruz, de usar "técnicas da Gestapo" para cooptar delegados.

Não é por aí, diz o professor de Columbia Robert Erikson. "A contagem de delegados favorece Trump por enquanto." Eis a matemática: prévias já selaram o respaldo de 1.618 dos 2.472 responsáveis por escolher o cabeça de chapa republicano.

O magnata acumula 8,2 milhões de votos populares (37%) e 755 delegados (46,5%); Cruz, 6,3 milhões (28,5%) e 545 (33,5%).

Ainda assim Trump reclama de "anomalias" como a votação no Colorado, que apontou seu preferido num caucus, processo diferente da primária. Nele, os eleitores não votam em um candidato: condados elegem representantes (como numa grande reunião de condomínio), que determinam quem os representará na etapa nacional.

Trump pode ser bom com as massas, mas Cruz tem mais experiência política e costurou acordos para levar todos os 34 delegados em jogo.

Já Bernie Sanders diz que, se o nome de Hillary Clinton for a opção democrata, será culpa dos superdelegados —712 caciques e congressistas que votam em quem quiserem (há mais 4.051 delegados "comuns", que têm de seguir as urnas). No total, a ex-secretária de Estado conquistou 1.289 "comuns" e 469 "super"; Sanders, 1.038 e 31.

Simpatizantes do senador pressionam superdelegados a mudar de lado.

Para Wendy Schiller, da Universidade Brown, "ser um candidato 'outsider' pode dar votos, mas para ser o nomeado pelo partido, é preciso ter uma campanha organizada e experiente. E isso nem Trump nem Sanders têm".

Da Universidade de Nova York, Jeanne Zaino afirma que só "reclama de um sistema injusto quem ainda não o dominou".


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