Folha de S. Paulo


Wisconsin traz obstáculo a Trump e Hillary em prévias partidárias

Talvez o Estado-berço do Partido Republicano seja a "Waterloo" de Donald Trump.

Já para Hillary Clinton, potencialmente a sexta batalha consecutiva que perde, numa guerra na qual é favorita, mas que se estende para além de todas as expectativas.

Nesta terça (5), Wisconsin fará suas prévias para escolher o republicano e o democrata que disputarão a Casa Branca. Analistas políticos apontam que, pela primeira vez desde 1988, o Estado pode não votar nos pré-candidatos à frente nas pesquisas.

É má notícia para Trump e Hillary, que devem perder para Ted Cruz e Bernie Sanders, respectivamente.

Adotada pelo establishment republicano, a comparação com a batalha de Waterloo, a derrota definitiva de Napoleão Bonaparte, pode soar exagerada. Trump ainda é forte em Estados com muitos delegados (membros do partido que representarão os eleitores na convenção partidária), como Nova York.

Mas, caso perca essa prévia estadual, e há quem preveja que até John Kasich, na lanterna, possa ultrapassá-lo, Trump pode perder gás.

O Estado contempla o vencedor com 42 dos 811 delegados republicanos ainda em jogo (quase 10% dos 500 que Trump precisa somar ainda para obter os 1.237 que lhe garantiriam a candidatura).

Infografia/Folhapress

O pulo do gato para Cruz, que soma até agora 475 delegados, seria uma "convenção disputada". Nesse caso, sem maioria formada, os delegados poderão votar em qualquer um dos candidatos, sem precisar respeitar as urnas.

Até Kasich nutre esperança. No seu caso, seria preciso mudar a regra que exige vitória em ao menos oito Estados para ser candidato –o governador de Ohio por ora só levou um deles, o seu. É improvável, mas não impossível.

ERRO DE CÁLCULO

Wisconsin já deu exemplos de que rejeita Trump.

Um dos erros do empresário é atacar as pessoas erradas, como o presidente da Câmara, o deputado pelo Estado Paul Ryan, e o governador Scott Walker. Ambos têm aprovação em torno de 80% entre republicanos, e bater neles faz Trump parecer democrata, disse à Folha o articulista Craig Gilbert, do blog "The Wisconsin Voter".

"Temos um debate intenso sobre a economia aqui [o Estado perdeu muitos empregos industriais nos últimos anos]. Os republicanos dizem que vai bem, os democratas, o contrário. E chega Trump falando, 'está terrível'."

O "estilo exibicionista de Trump" tampouco é bem recebido ali, onde o pré-candidato é retratado como encrenqueiro ou valentão, diz Gilbert.

Um dos picos de animosidade partiu de Charlie Sykes, apresentador que comparou o candidato a um "valentão de 12 anos no recreio" em seu programa radiofônico local.

"Aqui em Wisconsin valorizamos a civilidade, a decência e os princípios verdadeiramente conservadores", afirmou.

SANDERS

Do lado democrata, Hillary já espera perder para Sanders num Estado de maioria branca –seu apelo é maior entre minorias. Para piorar, as primárias em Wisconsin são abertas para eleitores sem filiação ao partido, entre os quais Sanders costuma abrir vantagem de dois dígitos.

O que importa para seus estrategistas, porém, é não perder de lavada. Para tanto, a ex-secretária de Estado subiu o tom contra o adversário. "Sinto pena dos jovens que creem nas mentiras [de Bernie], disse no domingo (3).

Nos últimos dias, o senador por Vermont a acusou de receber dinheiro da indústria petroleira e a ironizou por dar palestras em Wall Street: "Se você cobra US$ 225 mil [cerca de R$ 812 mil], deve ser um discurso fantástico, uma prosa shakespeariana."

Jeanne Zaino, professora da Universidade de Nova York, não estranha o acirramento. "Se Sanders não vencer em Wisconsin, será difícil para ele [atingir a meta de delegados para ser candidato]."


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