Folha de S. Paulo


Síria diz que Palmira será reconstruída em cinco anos; veja fotos da destruição

O diretor de Antiguidades e Museus da Síria afirmou nesta segunda-feira (28) que serão necessários cinco anos para restaurar os monumentos destruídos ou danificados em Palmira, cidade histórica que passou dez meses sob ocupação do Estado Islâmico.

"Se recebermos a aprovação da Unesco [agência de cultura da ONU], serão necessários cinco anos para restaurar os imóveis destruídos e danificados pelo EI", afirmou Maamun Abdelkarim à agência de notícias AFP.

"Temos funcionários qualificados, temos os conhecimentos e os estudos, mas é necessária a aprovação da Unesco e poderemos começar os trabalhos em um ano", completou.

Abdelkarim disse ainda que 80% das ruínas estavam em bom estado. "Meus colegas chegaram nesta segunda-feira a Palmira e pedi a eles que fizessem uma avaliação do estado das pedras e da cidade velha. Estão fotografando e documentando os danos e logo a restauração poderá começar."

Um jornalista da AFP que entrou na cidade disse que várias partes da área histórica estão intactas, já a área residencial, onde viviam 70 mil pessoas, está deserta e destruída.

Os militantes do grupo radical islâmico destruíram parte da cidadela do século 13, além dos templos de Bel e Baalshamin, o Arco do Triunfo e algumas torres funerárias, assim como o Leão de Al Lat.

A cidade foi retomada neste domingo (27) pelas forças sírias, com apoio de tropas aéreas do Exército russo, em uma vitória emblemática na guerra civil que se arrasta desde 2011 no país.

A perda de Palmira representa um dos maiores revezes sofridos pelo grupo radical islâmico desde que declarou um califado em 2014 ao longo de extensos trechos da Síria e do Iraque.

NEM TÃO OTIMISTA

Annie Sartre-Fauriat, membro do grupo de especialistas da Unesco para o patrimônio sírio, diz duvidar da capacidade de reconstruir Palmira diante das imagens de destruição e saques dos sítios arqueológicos e do museu da cidade.

"Todo mundo se entusiasma porque Palmira foi libertada, mas não se pode esquecer tudo que foi destruído e a catástrofe humanitária no país", disse à agência AFP.

"Quando ouço dizer que vão reconstruir o Templo de Bel me parece ilusório. Não se pode reconstruir algo que se encontra em estado de escombros. Construir o que? Um templo novo? Deve haver outras prioridades na Síria antes de reconstruir as ruínas", afirmou Sartre-Fauriat.

Ela afirmou ainda que a cidade só estará protegida quando a guerra acabar. "Enquanto o Exército sírio estiver na cidade, não fico tranquila. Não esqueçamos que o exército, que ocupou o local entre 2012 e 2015, causou muita destruição e realizou muitos saques", afirmou a historiadora.

OFENSIVA

As forças do governo da Síria, apoiadas por ataques aéreos da Rússia, combateram insurgentes nos arredores da cidade nesta segunda-feira (28), tentando ampliar seus avanços.

O Exército sírio disse que a cidade será uma "plataforma" de operações contra bastiões do Estado Islâmico nas cidades de Raqqa e Deir al-Zor, que ficam mais para o leste ao longo de uma vasta região desértica.

Segundo relatos da AFP, as operações os militares querem tomar Sojna, localidade a 70 km de Palmira para onde os combatentes do EI recuaram. Se o regime tomar o controle de Sojna, chegará às portas da província petrolífera de Deir Ezzor.

Já para chegar a Raqqa, o exército precisa controlar a localidade de Al Kum, ao norte de Palmira.

Além disso, as forças pró-regime pretendem tomar do EI a localidade de Al Alianiyé, 60 km ao sul de Palmira, para recuperar o controle do deserto e avançar em direção à fronteira com o Iraque, controlada em boa parte pelos jihadistas.

A mídia estatal da Síria afirmou na segunda-feira que o aeroporto militar de Palmira está aberto para o tráfego aéreo agora que o Exército livrou a área circundante de combatentes do Estado Islâmico.


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