Folha de S. Paulo


Moradores de Bruxelas ensaiam volta à normalidade após ataques

Ao longo da cinzenta e chuvosa quarta-feira (23) em Bruxelas, os moradores tentavam demonstrar um sentimento de normalidade após os atentados da véspera. A realidade, porém, era a de um dia atípico, especialmente no transporte público, um dos alvos dos terroristas –ao menos 20 morreram na estação de metrô de Maelbeek.

A maior parte das estações, inclusive Maelbeek, permaneceu fechada, e entre as que funcionaram houve um forte esquema de segurança. Dezenas de soldados com fuzis bloqueavam as entradas e revistavam os passageiros. Quem tinha mochilas era obrigado a abri-las.

Assim, filas se formaram no fim da tarde nos principais pontos da cidade, como a Estação Central. Ônibus também circularam com menos frequência. Só não houve caos porque o número de usuários foi bem abaixo do normal.

A Folha circulou por várias regiões de Bruxelas. Na linha 4 do metrô, conversou com o aposentado Daniel Trumpeneers, 62, dentro de um vagão quase vazio a caminho da estação Gare du Nord e sob o olhar de um policial no banco ao lado. Apesar da tensão, Trumpeneers afirmou: "Não é inteligente ter medo. Temos de tomar cuidado, mas a vida tem de continuar".

Ele estava a menos de 1 km de Maelbeek na manhã de terça (22). "Tentei fazer minhas coisas normalmente, dentro do que era possível por causa dos bloqueios da polícia". Ao perceber no relógio que eram quase 9h (5h de Brasília), disse: "Foi mais ou menos nesse horário [a explosão em Maelbeek], não foi? Poderia ter acontecido comigo."

Ao redor, a maioria dos poucos passageiros mantinha silêncio, mas havia quem visse no ato rotineiro de pegar metrô um acontecimento. No vagão vizinho, um casal sorridente tirava selfies.

As autoridades continuaram a orientar os moradores a só usar o transporte público se houvesse necessidade, e o expediente em várias empresas foi facultativo. A maior parte do comércio abriu.

O brasileiro Lucas Hackradt, 27, voltou ao trabalho na tarde de quarta, após ter passado por uma situação tensa horas depois dos atentados.

A polícia suspeitou de um carro parado a uma quadra de seu escritório, numa das principais ruas do bairro Europeu, que tem esse nome por abrigar as instituições da União Europeia. "Um agente de segurança escoltou a mim e outros três colegas para fora do escritório, por um suposto carro-bomba", disse.

Há um ano em Bruxelas, ele afirmou, porém, que a cidade parecia mais "sitiada" após os ataques a Paris do que agora. "Os atentados lá foram numa sexta-feira [13 de novembro de 2015], e aqui nada abriu nem funcionou até segunda por causa das buscas aos suspeitos. Desta vez, acho que quiseram passar a imagem de que não se pode parar", afirmou.


Endereço da página:

Links no texto: