Folha de S. Paulo


Marcha da oposição contra Maduro atrai cerca de 3.000 em Caracas

Milhares de pessoas participaram neste sábado de marchas opositoras convocadas em toda a Venezuela como primeira etapa de um ciclo de protestos que pretende forçar a renúncia do presidente Nicolás Maduro e demonstrar apoio a outros mecanismos para mudar de governo.

Em Caracas, o comparecimento foi estimado pela Folha em cerca de 3.000 pessoas, um número maior que manifestações do ano passado, mas ainda longe de qualquer mobilização de massa capaz de pressionar o governo, que organizou sua própria manifestação para mais tarde em outra zona da capital.

Não houve estimativa oficial de participantes. O cálculo, corroborado por fotógrafos de agências de notícias também presentes, foi feito com base no tamanho do local ocupado e a densidade da multidão.

"Maduro, nos poupe da tragédia e renuncie já", bradou o veterano Henry Ramos Allup, presidente da hoje opositora Assembleia Nacional, sob gritos e aplausos da multidão reunida numa área nobre da capital.

Usando linguajar tosco semelhante ao do chavismo, Ramos Allup zombou dos "motores da economia" com os quais o governo pretende reverter a crise e, apontando para a própria genitália, disse: "isto, sim, é um motor que funciona".

O deputado Freddy Guevara disse que a manifestação deste sábado deve multiplicar-se e crescer-se em breve.

"Nosso objetivo é que a próxima marcha se multiplique por dez, e a seguinte por mais dez, e assim por diante até que haja um milhão de pessoas protestando juntas em Caracas", afirmou.

A oposição diz defender marchas pacíficas, mas, em 2014, protestos antigoverno desencadearam uma onda de violência que deixou 43 mortos, incluindo manifestantes e policiais.

Neste sábado, porém, não houve sinal de violência.

Simpatizante opositora, a professora Berenice Caruso, 74, trajava com orgulho uma camiseta com a mensagem: "11.04.2002, eu estive lá". Trata-se de referência à serie de protestos que criaram condições para uma tentativa de golpe de Estado contra o então presidente Hugo Chávez naquele ano.

"Eu sou a prova viva de que protestos de rua podem levar o presidente a renunciar, e hoje estamos reavivando este processo", disse Caruso, que rejeita chamar de golpe o ocorrido de 2002.

Manifestações de rua são parte de uma estratégia tripla com a qual a aliança opositora MUD (Mesa da Unidade Democrática) pretende usar o Legislativo, que controla desde janeiro, como plataforma para abreviar a Presidência de Maduro.

As outras duas apostas da MUD são uma emenda constitucional para reduzir o mandato presidencial dos atuais seis para quatro anos (Maduro foi eleito em 2013) e um referendo revogatório para tirar o presidente do poder e convocar eleições ainda neste ano.

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CHAVISTAS

Enquanto a oposição se reunia em um ponto da capital, o presidente Nicolás Maduro e sua militância faziam um ato no centro de Caracas contra o decreto dos Estados Unidos que considera a Venezuela uma ameaça à segurança.

O protesto foi convocado na última quarta-feira (9), seis dias após Barack Obama renovar a medida por mais um ano. Nele, chavistas gritaram frases como "Yankees! Go home!" e "Maduro não vai embora".

Em discurso, o mandatário criticou a oposição e disse que vai continuar no cargo até o último dia do mandato. "Façam o que quiserem. Eu estou aqui para lutar. E Maduro vai ficar aqui até o último dia que deixou Hugo Chávez".

Ele prometeu fazer propaganda contra o decreto americano até que o texto seja retirado por Obama e lançou um censo de "chavistas autênticos", que terão uma carteira identificando-os como partidários do governo.

Com agências de notícias.


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