Folha de S. Paulo


Presidente de conselho eleitoral renuncia no Haiti

O presidente do Conselho Eleitoral Provisório do Haiti, Pierre-Louis Opont, apresentou sua renúncia na quinta-feira (28) em carta dirigida ao presidente Michel Martelly, uma semana depois do adiamento do segundo turno das eleições presidenciais e das legislativas parciais.

"Eventos trágicos independentes da minha vontade, que dificultaram o processo eleitoral, não me permitiram acompanhar minha missão até o fim, que era realizar eleições que conduzissem à reabertura do Parlamento em 11 de janeiro de 2016 e a instalação, em 7 de fevereiro, de um presidente eleito", escreveu Opont. 

Não foi marcada nova data para o pleito. A demissão de Opont, que foi antecedida da saída de quatro dos nove membros do conselho eleitoral, deixa a entidade impossibilitada de continuar funcionando.

Rood Chery - 21.jun.2009/Efe
Pierre-Louis Opont, que renunciou à presidência do conselho eleitoral do Haiti, durante votação em 2009
Pierre-Louis Opont, que renunciou à presidência do conselho eleitoral do Haiti, durante votação em 2009

Na sexta-feira passada, menos de 48 horas antes de abertas as seções de votação, Opont anunciou o adiamento por tempo indeterminado do segundo turno das presidenciais e das legislativas parciais, "por razões de segurança", depois de registrados atos de violência em uma dezena de locais de votação.

Este adiamento impediu o conselho de seguir adiante com um processo eleitoral criticado pela oposição e por organizações da sociedade civil. 

No primeiro turno, em 25 de outubro, o candidato governista, Jovenel Moise, obteve 32,76% dos votos, contra 25,29% para Jude Célestin, que classificou os percentuais de "farsa ridícula". Nos dois últimos meses, a oposição rejeitou os resultados e intensificou os protestos.

Após um primeiro adiamento da votação devido às manifestações opositoras, a nova anulação fez o Haiti mergulhar na incerteza e expõe o país a que ocorra um vácuo de poder a partir de 7 de fevereiro.

O governo já pediu uma missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) para mediar o impasse eleitoral com a oposição, e a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) aprovou o envio de uma missão de chanceleres ao país.

Desde a derrubada da ditadura da família Duvalier (1957-1986), o Haiti –um dos países mais pobres do mundo, com 10 milhões de habitantes– vem tentando para estabelecer uma democracia estável, em meio a golpes militares e fraudes eleitorais.

A situação do país foi agravada pelo terremoto de 2010, que deixou mais de 200 mil mortos. Desde 2004, após a revolta que derrubou o então presidente Jean-Bertrand Aristide, o Brasil chefia a missão de paz da ONU no Haiti (Minustah), mas a previsão é que o país retire suas tropas ainda neste ano.


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